Em tempos de crise, o corte de custos ganhou lugar na lista de resoluções de ano novo de muitos empresários. Mas, antes de decepar gastos para compensar as quedas nas vendas, vale a pena analisar com afinco as planilhas de despesas. “Cortes indiscriminados, como o fim do cafezinho ou a demissão da faxineira, podem desmotivar os funcionários sem contribuir para o caixa”, adverte o consultor Edison Cunha, sócio-diretor da Trevisan.
De modo geral, é mais eficiente concentrar esforços na redução da folha de pagamento e, conforme o caso, na aquisição de matéria-prima. Juntos, esses dois grupos costumam responder por cerca de 80% dos gastos das empresas, nos cálculos do consultor. Levando o dado em conta, selecionamos três formas de enxugar o orçamento com eficiência.
REVEJA O LEQUE DE PRODUTOS
Para amenizar a queda de 20% nas vendas do fim do ano em comparação com o mesmo período de 2007, a empresária Cristina Grenier, dona da fábrica de bolsas que leva seu sobrenome, reduziu pela metade, em novembro, a quantidade de modelos produzidos. “Passei a me concentrar nas 50 peças com maior giro e rentabilidade”, diz ela. A medida rendeu economia em dose dupla. De saída, a empreendedora conseguiu negociar com fornecedores descontos médios de 10% e esticar prazos de pagamento de 30 para 60 dias – vantagens resultantes do maior volume de compras de matéria-prima para cada item. Em outra frente, economizou no desembolso de horas extras o equivalente a 20% da folha de pagamento – cerca de R$ 2.000 mensais. “Com a menor diversidade, a produtividade dos funcionários aumentou. Ninguém mais trabalha além da jornada.” Para quem pensa em se inspirar no exemplo, o consultor Cunha avisa: “Para saber o que deixar de vender, é essencial conhecer os custos envolvidos em cada produto comercializado”.
CONCENTRE-SE NAS NEGOCIAÇÕES
Com a retração nas vendas, a negociação de preços e prazos mais vantajosos é ainda mais crucial. Mas nem por isso mais difícil. “Com o desaquecimento da economia, os fornecedores têm mais disposição para sentar e conversar para não perder as vendas”, diz o consultor Kenzo Otsuka, da Trevisan. O empresário Cláudio Motta, dono da confecção Dona Dita, de Rolândia, no Paraná, sabe disso. Em novembro, fechou uma compra de malhas, no valor de R$ 20.000, para pagar em cinco prestações mensais com 60 dias de carência. “Até então, o máximo que eu conseguia eram 20 dias de carência e três parcelas para pagar.” Na negociação, ele também conseguiu adiar para os pedidos de 2009 o aumento de 11% inicialmente previsto para o fim de 2008.
Antes de fechar o negócio, Motta havia dispensado um fornecedor irredutível na redução do prazo. “Comprei de quem me ofereceu as melhores condições”, diz. A manobra só foi possível pelo fato de a empresa ter cinco fornecedores pré-aprovados. “Muitos pequenos empresários perdem bons negócios por se acomodar na mão de um só vendedor”, afirma o consultor do Sebrae Antônio Carlos de Mattos. “Agora, mais que nunca, é hora de checar cotações alternativas e tentar negociar até mesmo contratos já assinados”, diz Otsuka.
FISCALIZE AS HORAS EXTRAS
Para amenizar os gastos com a folha de pagamento, uma saída é criar um banco de horas. Com a estratégia, sua empresa economiza no pagamento de horas extras, que têm acréscimo mínimo de 50% sobre o valor da hora normal. Também gasta menos com o desembolso do FGTS, das férias e do décimo terceiro salário, calculados sobre a remuneração mensal total do funcionário. “O sistema costuma ser mais utilizado em empresas com picos de trabalho, que compensam, em épocas de menor atividade, as horas extras trabalhadas nos períodos de alta produção”, diz Renata Husek, advogada sênior da área trabalhista do escritório Pinheiro Neto Advogados.
De modo geral, a cada hora trabalhada, o empregado tem direito a uma hora de folga. Mas, conforme o arranjo, a empresa pode conceder mais tempo de descanso para cada hora extra. Seja qual for a fórmula, a adoção do sistema exige aprovação dos funcionários da empresa. É necessário também registrar o acordo no sindicato da categoria.
Outra coisa: as horas não podem ficar acumuladas por mais que um ano. Antes de vencer o prazo, providencie as folgas. Para evitar problemas na Justiça do Trabalho, mantenha registro das jornadas. “É preciso marcar em cartão de ponto ou ponto eletrônico os horários de entrada e saída dos empregados para fazer a compensação correta”, afirma a advogada Renata.
Fonte: Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios
Enviado por Marli Sanches – Sebrae/MS