Eles são cerca 96 milhões de brasileiros, ou seja, quase metade da população do País, que é 193 milhões de pessoas, segundo o IBGE. Tem renda média entre três e dez salários mínimos e estão na base da pirâmide social. Nos últimos anos melhoraram de vida. Tem mais renda e mais crédito, o que fez com que crescesse o interesse do mercado nestes consumidores.
Segundo o publicitário Renato Meirelles, diretor do Data Popular, primeiro instituto de pesquisa do Brasil voltado para o mercado de baixa renda, a tendência é que cada vez mais as empresas de todos os portes invistam em produtos diferenciados e melhoria do atendimento a chamada classe C, ou classe média, e não somente a ela, mas também a D e a E.
Nesta entrevista ao Conexão Sebrae/MS, Meirelles, que também é colunista de diversas revistas, editor do site Brasil de Verdade e que já conduziu mais de 200 estudos sobre o comportamento do consumidor de baixa renda no Brasil fala sobre o crescimento desse mercado e a tendência para este ano.
Sebrae/MS – È um fenômeno recente o mercado estar mais atento as demandas das classes da base da pirâmide social do País?
Renato Meirelles – Na verdade o fenômeno da entrada dos consumidores da base da pirâmide social, das classes C, D e E, com maior ênfase no mercado se deu em dois momentos no País. O primeiro há 15 anos com o Plano Real, quando ocorreu o controle da inflação. A partir daí, essa parcela da população teve mais condições de comprar e também de fazer escolhas. O segundo momento é partir de 2003, quando foi implantada uma política de Estado de distribuição de renda.
Sebrae/MS – E quem despertou primeiro para esse nicho de mercado as grandes ou as pequenas empresas?
Renato Meireles – As micro e pequenas empresas já atendiam de forma diferenciada esses consumidores quase que de maneira instintiva. Um exemplo disso, são as velhas cadernetas das lojas e mercadinhos de bairros, que nada mais são do que uma oferta de crédito para seus clientes, quando ninguém ainda se preocupava com isso. Hoje já existe uma percepção maior desses empresários de que é preciso atender ainda melhor esses consumidores, que são seus principais clientes.
Sebrae/MS – E as grandes empresas também embarcaram nessa onda?
Renato Meireles – Sim, duas grandes redes de móveis e eletrodomésticos que cresceram a partir de pequenas lojas em todo o País e que tinham contato direto com as classes populares foram as primeiras a perceber isso e a investir nesse mercado. Atualmente o varejo como um todo estuda o perfil desse consumidor, se preocupa em atender suas necessidades da melhor forma, tanto que nelas já existe um setor especializado nesse segmento.
Sebrae/MS – E esses novos consumidores buscam mais preço ou mais qualidade?
Renato Meireles – Já foi o tempo em que esse consumidor buscava somente o preço. Hoje ele avalia muito bem a relação custo-benefício do que está adquirindo. Esse consumidor sabe que vai fazer um investimento alto na aquisição daquele produto e que se ele não for de boa qualidade vai ter que ficar com o que adquiriu, porque não vai poder comprar outro tão cedo. Então se preocupa muito com a qualidade. Se a dona de casa compra um arroz de baixa qualidade, sabe, por exemplo, que vai ter que comer aquele arroz até o pacote acabar, para só então comprar outro. Então esse consumidor está mais exigente.
Sebrae/MS – E qual a tendência deste mercado para este ano?
Renato Meireles – A tendência é que o mercado para os consumidores das classes C, D e F cresça ainda mais no País. Isso deve ocorrer em razão de três fatores básicos. O primeiro é que após a crise aumentou a disponibilidade de crédito e com prestações menores. A segunda é que houve um crescimento da renda dessa população com os programas sociais do governo federal e o aumento do salário mínimo e a terceira a estabilidade da economia, que fez com que preços de produtos básicos como alimentação e vestuário caíssem ou subissem menos que a inflação.