Mais do que uma estratégia de gestão de tempo ou uma técnica de produtividade, o essencialismo é um método para identificar o que é vital e eliminar o resto, que nos permite dar a maior contribuição possível ao que realmente importa.
Um microempreendedor do setor têxtil de Campo Grande – que não quis ser identificado – conta que tem todas as condições para fazer o negócio deslanchar: saúde e disposição, capacitação técnica, acesso à informação… No entanto, conta que não consegue focar no empreendimento porque está sempre desempenhando alguma atividade não relacionada ao trabalho, ou ainda pior, que faz parte da agenda de outras pessoas e não da sua: membros da família, parentes, amigos e antigos colegas de faculdade.
Este é certamente o caso de muitos empreendedores que gostariam de dedicar toda a energia e tempo produtivo aos seus negócios, mas não conseguem cumprir uma agenda própria de prioridades, sucumbindo a uma avalanche de compromissos alheios. Mas o que impede pessoas altamente capacitadas e determinadas de alcançar a excelência enquanto empreendedores ou gestores? Esta é a pergunta que faz o autor norte-americano Greg McKeown no livro Essencialismo: A disciplinada busca por menos.
“Para minha surpresa, a resposta é o sucesso”, relata Greg. “Observei isso quando trabalhei com times de executivos no Vale do Silício [São Francisco, EUA], onde percebi que, quando estão focados em um ou poucos projetos, o resultado é o sucesso. Mas esse mesmo sucesso traz tantas opções e oportunidades que os fazem perder o foco naquilo que os levou ao patamar inicial”, continua. A consequência, para o autor, é que o sucesso se torna um catalisador para o fracasso porque leva a uma “indisciplinada busca por mais”.
O antídoto para esse problema seria o oposto, ou “uma disciplinada busca por menos, porém melhor”. Essa postura essencialista significa: primeiro, explorar os projetos e tarefas realmente cruciais que você deseja perseguir e se dedicar a eles; segundo; eliminar todo o resto; terceiro, construir uma plataforma para uma execução sem esforço. “Então, fazer o que é essencial se torna o padrão cotidiano e não as raras ocasiões”, complementa.
Algumas questões do essencialismo
Como decidir o que é essencial?
O autor de Essencialismo salienta que, quando você realmente tem a chance e o espaço para pensar, é capaz de discernir facilmente o que é essencial daquilo que não tem importância. O problema, portanto, não é a habilidade de discernimento, mas a falta de tempo e espaço para pensar e discernir. Uma postura essencialista requer, portanto, o desenvolvimento de uma rotina que possibilite o espaço para pensar sobre o que é importante.
“Num mundo em que recebemos tantas informações, precisamos de mais tempo, não menos, para processá-las e fazer sentido delas”, defende Greg. Ele relata que um CEO entrevistado para o livro reserva sistematicamente duas horas todos os dias, divididos em momentos de meia hora, e se desliga do mundo (e-mail, celular, etc.) para pensar e enxergar o panorama de sua empresa. “Acredito que todos nós podemos desenvolver uma técnica semelhante”, enfatiza.
Por que é importante praticar dizer não?
De acordo com o conceito do essencialismo, a razão pela qual o empreendedor citado e tantos outros muitas vezes não conseguem dedicar a atenção necessária a fazer seus negócios deslanchar é a falta de habilidade para dizer não. “Para alguns, a ideia de dizer não a um superior ou aos amigos e membros da família é aterrorizadora. Essas pessoas acabam se perdendo em tarefas que não escolheram fazer. Mas essencialistas praticam e desenvolvem essa habilidade”, reafirma Greg.
Outro exemplo mencionado no livro é o da executiva Kay Krill, CEO da marca de roupas femininas Ann Taylor, que não conseguia dizer não aos compromissos mais variados. “Um mentor me disse certo dia: ‘Você precisa aprender a se afastar das pessoas e compromissos que não significam nada para você e que estão roubando o seu tempo das coisas que realmente deseja fazer’. Desde então, comecei a desenvolver a habilidade de dizer não gentilmente, mas sem remorso, o que me salvou horas, dias e compromissos desperdiçados”, relatou a executiva.
Por que menos é melhor?
E quando você é um pequeno empreendedor, que precisa fazer várias funções na empresa, e não tem a quem dizer não? Não é este o problema, pois a empresa é justamente o essencial da história. Greg reconhece que se tornar um essencialista não é uma tarefa fácil, e sim uma postura revolucionária, que requer muita perseverança, determinação e consciência de que, no início, muitas pessoas próximas ficarão chateadas, principalmente amigos e familiares.
“Você terá de dizer não quando outras pessoas dirão sim e dirá sim quando outras pessoas dirão não. Mas numa análise final, tudo que não é a disciplinada busca pelo essencial levará à indisciplinada busca pelo não essencial. Portanto, focar no que é essencial é um preço que vale a pena pagar, pois é uma excelente maneira de conquistar o que você mais deseja”, completa o autor.
Para saber mais sobre foco e produtividade, procure o Sebrae.