Um poeta que resolveu estampar camisetas com seus versos, um representante comercial de móveis que decidiu criar suas próprias peças; uma jovem que faz bonecas de pano personalizadas, entre muitas outras coisas que seu talento sem limites permite. Não é de hoje que negócios da economia criativa chamam a atenção do Sebrae/MS, e essa matéria vai contar um pouco dessas histórias de empreendedorismo para te inspirar.
Poesia estampada
“Um livro de poesias na gaveta não adianta nada. Lugar de poesia é na calçada”. Foi inspirado nesses versos do músico e poeta Sérgio Sampaio que o consultor empresarial Cássio Rodrigues criou o Cabide de Poesia.
Influenciado por grandes nomes da música e da literatura, como Arnaldo Antunes, Chico Buarque, Gilberto Gil, Sergio Sampaio, Leminski, Alice Ruiz, Chacal e Glauco Mattoso, Cassio escreve haicais desde a adolescência. Esse estilo de poesia, nascida no Japão, criou raízes no Brasil desde a década de 1920 e tem como principais características ser curta, direta e impactante.
Como todo artista, Cassio sempre quis usar sua obra para colaborar com a transformação do mundo, inserindo arte na vida das pessoas. Para tirar os textos do papel – e das redes sociais – e ganhar as ruas, Cassio fechou uma parceria com a advogada e empresária Andrea Lucia Cahves, que já tem uma empresa de confecção de camisetas e brindes personalizados há quatro anos, o Coisas de Alucha.
“As camisetas como forma de expressão do pensamento nunca saíram de moda, mas, ultimamente, temos visto voltar com força. Atualmente, vários poetas e empresas têm investido em novas estampas. A ideia de criar o Cabide de Poesia para a divulgação do meu trabalho literário já existia há algum tempo, a parceria com a Andrea ajudou a tornar realidade”, conta.
“Tinha um sonho de fazer parcerias com artistas regionais. Só que as poucas tentativas que fiz não deram em nada. Quando conheci o Cassio, as coisas foram acontecendo tão naturalmente que quando eu dei por mim eu pensei: uau! estou realizando um dos meus sonhos! O Coisas de Alucha tem a responsabilidade de espalhar a poesia do Cassio por esse mundão a fora”, comenta.
A principal divulgação do trabalho é via redes sociais. Os custos de produção (tecidos, confecção, estamparia) são “meio a meio”. A empresa ainda está começando, sob demanda, quase que artesanalmente. A intenção, a médio e longo prazo, é a produção de um estoque mínimo e a distribuição das camisetas para serem vendidas em pontos físicos em Campo Grande.
Do hobby ao negócio
Natural de Dourados (MS) e formado em administração de empresas, Luiz Saturnino mora praticamente a vida toda em Campo Grande, onde trabalhava como representante comercial de móveis para escritório, além de apoiar a esposa em sua empresa de consultoria em recursos humanos.
Desde criança, ferramentas sempre foram uma paixão. Luiz cresceu montando e desmontando seus brinquedos e os eletroeletrônicos da casa por curiosidade e passatempo. Há um ano, ao se mudar com a família de uma casa para um apartamento menor, Luiz viu que não tinha espaço para guardar suas ferramentas. Desfazer-se delas não era uma opção, então, alugou uma sala comercial na esquina de baixo do apartamento, onde montou sua oficina.
Com um espaço exclusivo, Luiz foi passando mais tempo por ali e as ideias foram fluindo. Mesinhas de centro, bancos, tábuas para churrasco e luminárias são alguns dos produtos de um portfólio focado em decoração e presentes feitos em madeira, de preferência a Imbuia, sua madeira preferida. As luminárias são a sua marca registrada.
“A onda do DIY (Do It Yourself, em português Faça Você Mesmo) está muito forte e isso é ótimo, assim, a gente não fica preso às grandes indústrias e acaba favorecendo a sustentabilidade, o reuso. Esse movimento tem dois aspectos interessantes: algumas pessoas acham que se eu posso fazer algo, elas também podem, então, não vão pagar para eu fazer; por outro lado, tem quem reconheça o trabalho que dá e entende que é um produto diferenciado com um valor agregado e acha que vale a pena pagar. Toco sozinho o negócio, desde a divulgação, encomenda até a finalização. Tem sido bastante desafiador, mas também prazeroso”, conta.
Nesse um ano de funcionamento, Luiz precisou adquirir duas novas máquinas e afirma que, em breve, o espaço alugado não será mais suficiente. O principal meio de divulgação de seu trabalho é o Instagram, por onde recebe contatos e encomendas do mundo inteiro.
De talento em talento
Foi um problema de saúde que fez a jornalista Lais Berri voltar de São Paulo para perto da família, em Campo Grande, há seis anos. Entre abrir uma loja de roupas e acessórios femininos, cantar na noite campo-grandense e tratar a fibromialgia, Lais fez um curso de boneca de pano, no Coisas de Amigas – Craft, um presente do esposo, André.
Filha de um pintor de hiperrealismo e experiente em trabalhos manuais, como pintura e bordado, Lais apaixonou-se pelo ofício e há oito meses tem trabalhado produzindo bonecas personalizadas sob encomenda.
“A primeira boneca que fiz, ainda no curso, nem ficou tão boa, precisava de um acabamento melhor, e mesmo assim, muitas pessoas já queriam comprá-la. Ali eu vi que seria um produto bem vendável. Quase não faço divulgação do trabalho, primeiro porque boneca é algo que as pessoas precisam pegar pra se apaixonar, precisam ver pessoalmente, precisam encostar. Colocar uma foto nas redes sociais não é suficiente para as pessoas verem como é minucioso e detalhista. Em segundo lugar porque é difícil ter um mostruário pronto, uma boneca demanda muito tempo e quanto mais detalhe, mais demorado é o processo, então acabo trabalhando mais por encomenda mesmo e a propaganda boca a boca fica por conta dos clientes mesmo”, conta.
Cada boneca é única porque dá para personalizar até tatuagens e o cabelo, por exemplo, o que torna uma ótima opção de presente. Os valores variam de acordo com o tamanho do molde e quantidade de detalhes, e vão de R$ 50,00 até R$ 600,00.
Lais mora em uma chácara afastada da cidade. O ambiente tranquilo, sem distrações como televisão, por exemplo, e o contato com a natureza ajudam no processo criativo da artista, que também desenha e cozinha receitas vegetarianas e veganas, que começou a fazer pra ela mesma durante o tratamento para fibromialgia com dieta ortomolecular. Tudo vira negócio.
“Eu nunca me vi como uma empreendedora, mas tenho uma noção de que eu faço isso de forma natural. Quando morava em São Paulo, fazia quadros por encomenda, bonequinhos de cerâmica por encomenda e até mesmo algo que eu fiz para decoração da minha casa, e a pessoa achava bonito, eu acabava vendendo. Acho que a ficha caiu mesmo e eu me vi como empreendedora quando abri a loja aqui em Campo Grande, que é um lugar muito bom para empreender. Penso em unir todas as minhas produções artísticas, me juntar a outros artistas, e abrir um ateliê com loja, como um coletivo de vários nichos. É um movimento que está ganhando espaço e a gente tem que aproveitar esse cenário”, finaliza.
Alguém duvida que ainda vem muita ideia e muita coisa boa por aí?