Durante o mês de março, estamos mais inspirados ainda por histórias de mulheres empreendedoras. Já contamos aqui algumas histórias de coragem e ousadia de quem resolveu empreender em segmentos que, normalmente, são dominados por homens, mostrando que vivemos novos tempos.
Já pensou entrar em uma loja de acessórios para motos ou jogar futebol em um campo e saber que as donas desses negócios são mulheres? Essas são as histórias que vamos contar hoje.
Duas rodas e muita competência
Farmacêutica de formação, Gleysi Pereira Ferzeli engravidou e não queria voltar para sua área de atuação depois que tivesse o bebê. Ao dividir o desejo com o marido, Tiago, surgiu a ideia de abrir um negócio próprio. Apaixonados por motocicletas, a ideia foi a de uma loja de acessórios para motos e motociclistas, nicho bem específico e de pouca concorrência na cidade.
Com um investimento inicial de R$ 100 mil e os conhecimentos adquiridos no Programa Nascer Bem, o casal abriu as portas da Helmet Moto Store em abril de 2015. A vendedora? Gleysi. A administradora? Ela também. E com muita competência.
Como Tiago ajudava a mãe no outro negócio da família, Gleisy passou oito meses atendendo sozinha na Helmet.
“Eu tive muito medo de não passar credibilidade e isso prejudicar o negócio, então me preparei muito, pesquisei, estudei; e os representantes das marcas também ajudaram muito com treinamentos. Mais de 90% do meu público é de homem; eles entram na loja e não confiam muito em ter uma mulher atendendo. O preconceito é velado. Só a gente que tá ali naquela situação sente, mas quando eu mostro que eu sei do que eu estou falando, que eu entendo do assunto, fica tudo bem”, explica.
Como o negócio começou somente com capacetes e depois foi ampliando, de acordo com a demanda, para outros produtos como jaquetas, óculos, luvas, escapamentos, entre outros, Gleysi precisou de ajuda. Hoje, a loja conta com um funcionário, que apesar de ser apaixonado pelo assunto chegou ao emprego sem saber quase nada e passou por um treinamento justamente com a Gleysi.
Outro ponto positivo de ter uma mulher à frente de um negócio como esse é passar mais segurança para outras mulheres, que apesar de serem menor parcela entre os que pilotam, querem também um atendimento digno.
“Não é o gênero que vai definir no que você é bom ou não. É o seu entendimento, o seu conhecimento, o seu empenho e a sua dedicação em aprender. Temos clientes mulheres também, moto clubes de mulheres, que sabem que aqui elas vão encontrar alguém que se identifica com elas, sem julgamento”, defende Gleysi.
Irmãs, empresárias, inspirações
Lyandra e Ana Flavia Fogolin Domingos são irmãs. A primeira é formada em Direito, a outra é dentista. Lyandra sempre gostou de futebol. Ana Flavia não era nem um pouco fã, a ponto de ir ao cinema sozinha enquanto todos assistiam aos jogos da Copa do Mundo. Há cinco anos, uma serviu de inspiração para a outra e hoje elas dividem a mesma paixão: o futebol, que virou negócio.
Trabalhando como voluntária em projetos sociais voltados para saúde e qualidade de vida de mulheres, Lyandra sentiu falta de uma atividade dedicada aos homens. O que começou como um campo para jogar no Parque dos Poderes, se tornou o Arena Vip, que oferece campo, escolinha de futebol, além de um espaço com toda a estrutura para eventos, shows e festas.
Com cinco funcionários, Lyandra chega a um fluxo de sete jogos por dia, fora os eventos, recebendo às vezes 800 pessoas numa noite.
“Na área de eventos até é mais comum ter mulheres à frente, no futebol não. Mas nunca perdi cliente por ser mulher e, mesmo que houvesse preconceito, você tem que encarar, senão você nunca vai fazer o que você gosta. E é disso aqui que eu gosto”, afirma.
Já a irmã de Lyandra, Ana Flavia, antes de abrir o Santo Gol, em fevereiro de 2016, trabalhou como dentista por nove anos, mas não estava mais feliz e queria empreender.Percebendo que a cidade tinha uma demanda por campos de futebol, mas os lugares que existiam não ofereciam estrutura adequada, aproveitou a experiência da irmã para também entrar nesse nicho de mercado.
Investiu em tecnologia e em uma proposta diferenciada, como opção de lazer para toda a família, onde as esposas dos jogadores se sentissem à vontade. Estimular o futebol feminino também é uma das propostas.
“Quando uma mulher chega nessas quadras ou para assistir o marido jogando ou para buscar ele, costuma se sentir deslocada. Geralmente não é um ambiente legal, onde dê pra ficar e curtir. Minha ideia foi justamente trazer as mulheres para dentro do campo. Quando chegam aqui e elas ficam sabendo que uma mulher a dona, a comunicação fica mais fácil, elas ficam mais à vontade”, conta.
A área de cinco mil metros quadrados próxima à Base Aérea possui dois campos, quadra de areia, vestiários, quiosques para churrasco e espaço de convivência com bar e televisão. Entre jogos, escolinha de futebol (que atende de crianças bem pequenas a adolescentes de 16 anos) e espectadores, passam em torno de 200 pessoas por ali diariamente.
“Nunca tive preconceito, nem com funcionários nem com clientes, até porque depois que comecei a tocar o negócio, passei a assistir mais jogos, ficar ligada nos campeonatos. Quando os homens percebem que você entende do assunto, respeitam mais”, explica.
É verdade que um bom gestor independe de gênero. Mas precisamos concordar que a mulherada anda arrasando por aqui.