Planejar as próprias férias significa estabelecer um rigoroso controle dos indicadores da empresa, delegar funções de liderança e programar uma baixa carga de demandas para uma época específica do ano.
Punta Cana, Maragogi, Cancun, Paris, Jericoacoara… A sua timeline no Facebook exibe em série as fotos dos seus amigos curtindo a vida mundo afora. Então você percebe que precisa dar um tempo no trabalho, fazer as malas e partir. Acessa diversos sites de comparação de preços de passagens aéreas, configura alertas e, imediatamente, sua caixa de e-mails enche-se promoções: Miami por R$ 800, Roma por R$ 1.100…
Afoito para aproveitar uma das ‘bagatelas’, você se lembra que tem uma empresa para administrar e, mais uma vez, não consegue se ausentar por mais de um fim de semana, pois o negócio – gestão, operação, vendas, compras, atendimento ao cliente, financeiro – não pode parar. O empreendimento é 100% dependente de sua presença física. E agora, o que fazer?
Apesar da imensa facilidade de se viajar para qualquer parte do mundo atualmente, as demandas de um pequeno empresário não deixam barato: equipe pequena ou equipe nenhuma, falta de estrutura e, na maioria das vezes, o típico acúmulo de funções. Quem entende de negócios e de viagens, no entanto, alerta que a falta de férias prejudica não apenas a saúde e a vida pessoal do empresário, como também o próprio negócio, pois o deixa carente de ideias frescas e novas referências.
O empresário Leonardo Freitas, 43 anos, sócio da agência Premier Viagens, vivencia os dois lados da questão. Especialista em viagens corporativas, ele atende empresários de todos os portes com roteiros de negócio ou turismo, além viajar de férias em média três vezes por ano. Ele garante que é possível, mesmo para o mais ocupado dos empresários, curtir as férias com a família, recarregar os ânimos e voltar para a empresa com as ideias renovadas, desde que se planeje antecipadamente e organize o dia a dia da empresa.
“No meu caso, não deixo nada para a última hora, planejo tudo com pelo menos um ano de antecedência. As viagens que estou fazendo em 2016 foram planejadas em 2015, e já planejei as de 2017”, relata Leonardo. “Claro que inconvenientes podem ocorrer e eu tenha que mudar uma coisa ou outra, mas a estrutura das férias já fica programada com muita antecedência. Assim não sofro com valores altos da última hora, principal razão que faz muita gente desistir de viajar”, completa.
Planejar as próprias férias: controlar e delegar
A antecedência com a qual o empresário planejar sua ausência será inversamente proporcional à chance de algo dar errado e ele ter de desistir. Esta é a opinião do analista técnico do Sebrae, Cícero Bruel, para quem planejar significa estabelecer um rigoroso controle dos indicadores da empresa, delegar funções de liderança, evitar compromissos e programar uma baixa carga de demandas para uma época específica do ano, podendo considerar inclusive um período de férias coletivas.
“Quando saio de férias, geralmente três vezes por ano durante 10 dias, só ressalto uma coisa à equipe: peço a colaboração de todos para manter a qualidade no atendimento e no pós-atendimento”
“Para o período de férias, é essencial que o empresário não tenha decisões importantes a tomar, e que prepare os funcionários para deixá-los como líderes dos processos durante a sua ausência”, recomenda Cícero. “Também é fundamental adequar as férias à sazonalidade do negócio, que costuma variar dependendo do setor, além de evitar os meses entre dezembro e fevereiro e julho. Não faria sentido o dono de uma sorveteria viajar no auge do verão, por exemplo”, acrescenta.
Para Leonardo, cuja empresa tem 12 anos de mercado, planejar as próprias férias e a programação da viagem são tranquilos, não apenas pela experiência na área, mas também pelo revezamento com o sócio na liderança do negócio, pela estruturação de um processo de processo interno de substituição e pela relação de confiança estabelecida com os funcionários.
“Quando saio de férias, geralmente três vezes por ano durante 10 dias, só ressalto uma coisa à equipe: peço a colaboração de todos para manter a qualidade no atendimento e no pós-atendimento, que considero as chaves do sucesso do negócio. Isso é resultado de uma longa trajetória de companheirismo e trabalho em equipe”, relata.
Desligar-se ou conectar-se?
“Jamais tire férias e fique conectado, querendo saber tudo o que ocorre na empresa. Você estará sabotando a si mesmo e a sua família. Quando viajar, desligue-se totalmente. Se será por um período curto ou longo, o seu planejamento e estrutura é que dirão”, enfatiza Leonardo. Para o empresário, os recursos tecnológicos da atualidade provocam no viajante a tentação de ficar ligado na empresa 24 horas por dia, o que é quase tão prejudicial quanto não tirar férias.
Por outro lado, Cícero avalia que se desligar da empresa completamente nos dias de hoje é uma utopia, sendo que esta condição já está “inclusa no pacote” da decisão de ser dono do próprio negócio e não empregado. “Muitos empresários não conseguem relaxar enquanto não conferem que tudo está correndo perfeitamente. Nestes casos, vale uma palavra rápida com quem está responsável pelo negócio para, então, desligar”, observa.
O analista do Sebrae salienta, no entanto, que o gerenciamento remoto do negócio, por meio de ferramentas como o WhatsApp, por exemplo, não deve significar em hipótese nenhuma levar a empresa consigo, sob pena de voltar ainda mais cansado mentalmente. Neste ponto, os dois especialistas concordam que o pleno desligamento será possível tanto quanto forem organizados os processos de gestão e operação no empreendimento, bem como a preparação da equipe que fica.
Para isso, Cícero destaca a necessidade de o empresário buscar qualificação, ao longo de todo o ano, em áreas como gestão de pessoas e equipe, planejamento estratégico e liderança. Para saber mais sobre o assunto, procure o Sebrae.