As lindas floradas dos Ipês, o pôr do sol encantador e as capivaras amigas dispensam apresentações: são marcas registradas da capital sul-mato-grossense, que completa 119 anos de fundação no dia 26 agosto.
Famosa pela beleza natural e infraestrutura de avenidas largas, Campo Grande tem sua história marcada pela mistura de diversas etnias. A Cidade Morena possui a segunda maior comunidade indígena do país e podemos encontrar grandes colônias de descendentes de espanhóis, italianos, japoneses, sírio-libaneses, armênios, paraguaios e bolivianos.
Um dos locais que contam um pouquinho da história de Campo Grande é o Mercado Municipal Antônio Valente, considerado um dos principais pontos turísticos da cidade, que começou como uma feira em torno da ferrovia Noroeste, com foco no comércio de frutas, verduras e legumes produzidos pela agricultura familiar.
O atual prédio, localizado no coração do centro da cidade, entre a Avenida Afonso Pena e a Rua 7 de setembro, foi inaugurado em 1958 e também está de aniversário, comemorando 60 anos de fundação. “A história de Campo Grande passa por aqui.
Não só porque o Mercado Municipal foi um dos primeiros centros de comércio, mas porque a proximidade com a ferrovia trouxe pessoas, histórias e suas culturas para dentro do Mercadão. Aqui você acha o berrante, tereré, queijo caipira, doces de fazenda. Tudo o que é bem característico da nossa cultura. O diferencial daqui para os supermercados é o calor humano. Você chega nas bancas, conversa com os donos e até barganha desconto”, conta Cleuber Linares, presidente da Associação dos Comerciantes do Mercadão (Associmec).
Antes de chegar à presidência da Associmec, Cleuber trilhou uma trajetória iniciada por seu avô, que vendia peixe na rua em um carrinho de madeira no interior de São Paulo. O ofício foi herdado pelo pai de Cleuber, Manoel Linares, que mudou-se para Campo Grande em 1977, abrindo uma das únicas peixarias da cidade, localizada no Mercadão. Em 1984, para atender à demanda, a família abriu um dos primeiros frigoríficos de peixe do estado; e em uma propriedade em Bandeirantes, montou a primeira estação de reprodução de Mato Grosso do Sul.
Hoje, Cleuber e os irmão Márcio e Carlos são os empresários à frente dos negócios, que empregam mais de 40 funcionários e abastece supermercados, restaurantes e hotéis de Campo Grande, além de outros estados, como São Paulo e Minas Gerais.
42 anos só de Mercadão
Comerciante mais antigo do Mercadão, Hiroshi Utinoi saiu de um sítio no Paraná em 1976 e veio para Campo Grande começar uma nova vida junto com a família. Atualmente com 84 anos, metade deles dedicados a trabalhar e atender ao público nas bancas 9 e 47, até hoje é de lá que ainda tira o sustento da família.
A banca que vende produtos a granel como farinhas, ervas de tereré, amendoins e produtos medicinais, ficará de herança para a sua filha, Mari Evani Utinoi, que há quatro anos já acompanha o pai nas atividades do dia a dia. “Ela vem para me ajudar, por conta da minha idade. As pessoas procuram por mim, pelo meu nome, pela minha banca, mas ela atende melhor e mais rápido e daqui alguns anos é ela quem vai assumir tudo”, conta Hiroshi.
A terceira geração
Ronald Kanashiro, 47 anos, é a terceira geração de descendentes japoneses do Mercadão. Criado dentro do estabelecimento, seu avô e sua mãe trabalhavam com uma banca de verduras. Quando ele voltou do Japão, em 1996, realizou o sonho de comprar a própria banca no Mercadão para abrir a Casa de Carnes Oriente. Completando 25 anos no mercado de carnes, ele lembra com carinho a trajetória. “É uma grande realização da minha vida, a ponto de ser minha única fonte de sustento”, afirma orgulhoso.
A casa de carnes recebe todos os dias os produtos pela manhã, e de sábado a sábado realiza a desossa, assim como conta Kanashiro. “O grande diferencial é a rotatividade de carne, porque aqui no mercadão nós não temos estoque, por conta do pequeno espaço. Então, o que chega aqui, acaba. Se você chegar para comprar carne pode ter certeza que o produto é daquele dia, fresquinho”, explica.
O Mercadão
Atualmente, o Mercadão conta com 144 bancas, 77 boxes e 500 trabalhadores, que recebem e atendem a cerca de 5 mil clientes diariamente. O destaque na venda vai para produtos como o artesanato, ervas medicinais, erva mate para tereré, pasteis, queijos e doces caseiros, temperos, condimentos, frios, produtos naturais.
No local, é fácil notar o sucesso dessas e outras histórias das famílias empreendedoras, que com os anos de determinação e perseverança chegaram longe, mesmo sem apoio e até mesmo orientação.
O exemplo dos mais velhos influenciaram a trajetória das suas gerações e vão continuar influenciando as próximas. A herança, nesses casos, vai além de um espaço físico, mas sim pela paixão de empreender através do compartilhamento dos conhecimentos adquiridos ao longo de muitos anos de trabalho.
Comemorações
Em comemoração ao aniversário de Campo Grande e do Mercadão, acontece de 30 de agosto a 2 de setembro o 6º Festival do Pastel. Estão previstos, entre as atrações, elaboração de receitas ao vivo em uma cozinha-show com a participação do cheff sul-mato-grossense Paulo Machado, vencedor da batalha de estrogonofes do programa nacional Mais Você, concurso de receitas, sorteios, exposição histórica e apresentações musicais regionais. O Sebrae/MS apoia esta iniciativa e, ao longo das décadas, foi um parceiro chave para levar soluções em atendimento e gestão aos empreendedores do local.