Agronegócio e preservação ambiental podem viver em equilíbrio. Em Bodoquena, cidade localizada a 250 km de Campo Grande, as duas atividades coexistem e rendem, inclusive, bons negócios.
Mais de 40% da renda do município vem da atividade agropecuária e o ecoturismo da região, com trilhas, grutas, nascentes, cachoeiras e rios de águas cristalinas, atrai milhares de turistas todos os anos, movimentando o importante cinturão turístico de Mato Grosso do Sul, formado também pelas cidades de Bonito, Jardim e Guia Lopes da Laguna, que somam mais de 30 atrações diferentes.
Completando 38 anos de emancipação política em 13 de maio, Bodoquena é terra de gente que gosta de criar raízes e crescer junto com a cidade. Gente como o Reginaldo Medeiros Barreto, que cresceu à beira do Rio Betione vendo o pai Regino e a mãe Nilce atenderem funcionários das fazendas da região em um pequeno mercadinho, aberto em 1986 para garantir o sustento da família.
Como as opções de lazer aos finais de semana quase não existiam, o mercadinho se tornou referência para os banhistas que iam ao rio se refrescar. Em menos de três anos, perceberam que o negócio era rentável e resolveram ampliar para melhorar a estrutura, além de oferecer refeições.
“Chegou uma hora que a gente percebeu que o perfil dos frequentadores tinha mudado, não eram mais os moradores, eram turistas mesmo, que chegavam e queria acampar, pernoitar por ali, aproveitar melhor as cachoeiras, as trilhas. Então tudo que a gente ganhava, a gente reinvestia para ampliar o bar e o restaurante, construir mais quartos e quiosques”, relembra Reginaldo.
Sonhando em profissionalizar ainda mais o negócio dos pais, Reginaldo fez faculdade de Turismo e trabalhou nas cidades de Bonito e Jardim para entender melhor como oferecer um bom atendimento e um bom serviço aos clientes.
Hoje, o Balneário Betione, que foi o primeiro da cidade, recebe uma média de 300 pessoas por mês durante a alta temporada e o prato principal da casa, o Frango Caipira preparado com muito carinho pela dona Nilce, atrai turistas do Brasil inteiro e também de outros países.
De acordo com Reginaldo, um dos investimentos que mais fez diferença no negócio foi a internet. “Com internet a gente consegue ter máquina para passar cartão e parcelar. Sabendo dessa facilidade, o turista gasta até um pouco mais”, revela.
Protagonismo que vem da terra
A experiência pessoal de um funcionário público e produtor rural do Distrito de Morraria do Sul, distante 33 km de Bodoquena, transformou a vida de dezenas de famílias.
Nascido em Bodoquena e morando em Morraria há 30 anos, Hilário de Goes Cabreira sentiu na pele a dificuldade de ter os produtos de suas lavouras desvalorizados por conta da supersafra e de perder mercado para atravessadores que conseguiam fazer um preço mais em conta. Só que essa realidade não era só dele.
A solução veio com o Projeto Tempo de Empreeender, do Instituto Camargo Correa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que viabilizaram uma unidade de processamento vegetal, inaugurada há 4 anos.
Nessa agroindústria, 33 famílias da Associação de Pequenos Produtores do Distrito plantam, colhem, processam e embalam itens como mandioca, abóbora, cenoura e beterraba; e distribuem para mais de 20 mercados das cidades de Bonito, Bodoquena e Campo Grande.
“O objetivo do trabalho na agroindústria é produzir e vender a um preço justo, que não prejudique nem o produtor nem o comprador. Nesses quatro anos, a qualidade de vida das famílias melhorou bastante porque, antes, as pessoas ficavam dependentes de bolsas do governo, não podiam comprar nada diferente, fazer planos. Agora a autoestima deles é outra, pois sabem que não só ganham dinheiro, mas também que esse dinheiro é digno e fruto do próprio trabalho”, conta Hilário, atual presidente da Associação.
O projeto contempla também a produção de hortaliças orgânicas para fornecimento a programas governamentais, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar e o Programa de Aquisição de Alimentos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).