Helaine fez da paixão pelo artesanato um negócio cinco vezes mais rentável que o seu antigo emprego. “Comecei como brincadeira e vi que levava jeito”, lembra a artesã, que, hoje, trabalha com 63 temas diferentes. Foto: Paulo Ribas
Pelo menos 70% dos cerca de 26 mil empreendedores individuais de Mato Grosso do Sul têm no próprio domicílio a sede de seu negócio. De acordo com o Sebrae, hoje são mais de 18 mil, que trabalham principalmente nos setores de produção e comércio de artigos de vestuário, alimentação e prestação de serviços, como de cabeleireiro e estética.
“Minha casa é minha fábrica” ou “minha casa é o meu negócio”, dizem eles, ao definirem seu tipo de empreendimento. Na maioria dos casos, de acordo com o Sebrae-MS, os atuais empresários viviam na informalidade e, outros, aproveitaram o lançamento do Empreendedor Individual (EI), criado em 2008, para realizar o sonho de começar seu próprio negócio sem grandes riscos.
Apenas Campo Grande concentra cerca de metade desses trabalhadores/empresários. E, segundo o técnico do Sebrae-MS, coordenador da pesquisa “A Mulher e o Mercado de Trabalho em MS”, Marcílio Moreira, 45,5% são mulheres – que em sua maioria aproveitam a oportunidade de trabalhar em casa para conciliar os afazeres domésticos e os cuidados com os filhos.
A artesã e decoradora Helaine Clicia é uma delas. A ex-bancária descobriu a paixão por artesanado há três anos, quando a filha estava prestes a completar um ano de idade. Hoje, fez de sua paixão um negócio cinco vezes mais rentável que seu antigo emprego, e com a vantagem de poder acompanhar o crescimento da filha de perto.
“Comecei como brincadeira, fazendo a decoração da festa de aniversário da minha filha e depois vi que levava jeito, as pessoas gostavam”, conta. Helaine esculpe peças de isopor para decoração de festas infantis, já tem 63 temas diferentes e não para – toda semana está criando novas peças, na oficina que organizou em casa.
Hoje ela faz entre duas e quatro festas por semana, consegue remuneração de cerca de R$ 2,5 mil por mês, e com as vantagens do EI, inclusive de direito à previdência. Também usa redes sociais para vender e alugar peças e por conta disso o negócio tem crescido – já enviou cenários para o Rio Grande do Sul, Recife, Fortaleza, São Paulo e até mesmo Holanda. “Mas eu sonho é ter meu próprio bufê, com local e a parte de comida e bebida também”, planeja a artesã, que sonha em logo sair do EI para o Simples Nacional.
Grandes empresas tiveram início em produções caseiras
Um negócio que começou em casa tem tudo para dar certo – a experiência inicial adquirida com riscos menores, segundo o Sebrae, já fez muita ideia se tornar empreendimento de sucesso no mundo. Exemplo disso são grandes empresas como Casa do Pão de Queijo, Bauducco e Matte Leão – todas têm em sua história o início com produções artesanais e, hoje, se tornaram grandes marcas no mercado.
“Comecei em casa, mas pretendo ampliar – tenho vontade de ter algo maior”, disse a costureira Sebastiana Pereira e Silva. Como todo iniciante em um negócio, ela sonha com o momento em que terá sua própria indústria de produção de camisetas. Mas hoje, em casa, ela e a filha se empenham na produção de 100 a 400 peças por dia, na tentativa de começar a ganhar mercado.
Toda produção é destinada a uma serigrafia, por isso, o lucro ainda não chega a metade do que seria ideal para alavancar a pequena fábrica e tirá-la de casa. “Mas já começamos a fazer alguns uniformes, de R$ 1,20, passamos a R$ 3 de lucro por peça. Logo poderemos aumentar a confecção e contratar mais gente”, planeja.
E exemplos a seguir não faltam no ramo. O empresário José Elizeu do Nascimento, hoje proprietário da marca @ Zero, em 1995, saiu do emprego de segurança e decidiu vender camisas informalmente, porém, a revenda tornava o produto caro e de difícil distribuição, pelo alto custo. “Foi aí que eu e minha esposa começamos a produzir camisas em casa, ela cortava, costurava e eu fazia as casas e pregava os botões”, conta.
Não demorou muito o negócio cresceu. Do início, em casa, até hoje, a persistência e o trabalho já abriram cinco lojas, quatro em Campo Grande e uma em Cuiabá, mais a indústria. Das peças poucas manuais de 16 anos atrás a 5,5 mil peças de camisas, camisetas e calças jeans industrializadas por mês – foi assim que Nascimento fez da sua casa a sua fábrica. (AM)
Por Adriana Molina
Publicado no jornal Correio do Estado. Ed. 18.174