Quem pretende recorrer a um financiamento deve primeiro cuidar da gestão da empresa antes de recorrer a qualquer linha de crédito. Depois, planejar exaustivamente, calculando os riscos no médio prazo e a capacidade de endividamento do negócio.
Quando a médica veterinária Stephani Morgantini, 32 anos, realizou o sonho do negócio próprio ao adquirir em 2013 um petshop em Campo Grande – que estava à beira da falência, quase fechando –, ela precisava de capital para recuperar a estrutura do empreendimento. Era necessário comprar equipamentos, gaiolas, material de trabalho e ainda reformar, ampliar e pintar o espaço. Enfim, imprimir sua marca pessoal ao novo pet shop Reino Pet.
Sem recursos para investir e ainda quitar o financiamento de um veículo que fez parte da aquisição, Stephani recorreu a um empréstimo bancário. Sem experiência no assunto e orientação especializada, ela foi diretamente à sua agência bancária e aceitou as condições de pagamento que o banco impôs. “O crédito foi essencial para eu conseguir trabalhar, mas ficou muito pesado devido ao prazo curto e à alta taxa de juros”, conta.
Tomar um empréstimo empresarial sem um planejamento efetivo e sem pesquisar, comparar e calcular taxas de juros, prazos e condições reais de honrar o compromisso é muito comum entre pequenos empreendedores e pode ser fatal para a sustentabilidade financeira da empresa.
“Recorrer ao crédito não é ruim. Na maioria das situações, é a única forma de o pequeno empresário viabilizar seu negócio. Ruim é não planejar, não pesquisar exaustivamente as taxas de juros e não fazer contas, sempre com ajuda de quem tem mais experiência”, observa a médica veterinária.
Planejamento e gestão
De acordo com a analista técnica do Sebrae, Luciene Mattos, seja para formar capital de giro ou para comprar equipamentos, o pequeno empresário deve fazer o mais cauteloso planejamento possível na hora de buscar um financiamento. Isso inclui analisar os riscos no médio prazo, calcular a capacidade de pagamento e, principalmente, garantir uma gestão eficaz do negócio.
“Quando a gestão da empresa está em dia, o crédito é quase uma consequência. Portanto, a lógica é primeiro cuidar da gestão e depois buscar o recurso, e não o contrário”, enfatiza a especialista. Depois de arrumar a gestão, de planejar e avaliar cuidadosamente a capacidade de endividamento, o empresário pode buscar ajuda especializada sobre as linhas de crédito, instituições e condições mais adequadas ao empreendimento.
“O Sebrae pode ser essa fonte de orientação especializada, pois tem ampla expertise no assunto. Só então, ele deverá reunir a documentação e se preparar para conversar com os gerentes das instituições sugeridas. Para isso, é fundamental ter um plano de negócios e formas de mostrar que a empresa é lucrativa”, explica Luciene.
Opções de crédito
Para o micro ou pequeno empresário que está trilhando uma das etapas em busca de financiamento, Luciene ressalta que a opção mais indicada continua sendo o Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO). Com linhas oferecidas pelo Banco do Brasil e pelo Sicredi, por exemplo, o fundo libera até R$ 90 mil para microempresas e R$ 270 mil para pequenas empresas, com taxas de juros muito menores e prazos bem maiores do que nas linhas de crédito convencionais.
Outra opção interessante, conforme a analista, é o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), que pode ser acessado na maioria dos bancos tradicionais, oferecendo financiamento de até R$ 20 milhões para micro, pequenas e médias empresas de todos os setores. Há também o Cartão BNDES, que pode ser usado para compra de equipamentos e mercadorias, com limite de crédito de até R$ 1 milhão por cliente e prazo de parcelamento de até 48 meses.
Mais direcionado aos microempreendedores individuais (MEI), o Banco Cidadão, do Governo do Estado do Mato Grosso do Sul (antigo Banco da Gente), empresta até R 3 mil em até 18 meses. Na mesma modalidade, o Banco Canindé, da Prefeitura de Campo Grande, disponibiliza até R$ 8 mil (MEI) e R$ 10 mil (microempresa) em até 24 meses.
Fundo de aval
Quando buscou financiamento por conta própria para o Reino Pet, por falta de experiência, Stephani teve de aceitar as condições de garantias impostas pelo banco: a retenção integral do valor da venda ou da primeira parcela no cartão de crédito, até que fosse debitada em sua conta bancária a prestação. “Foi uma forma de garantia muito pesada para o negócio, pois boa parte do meu capital de giro ficava retida”, conta.
Ainda de acordo com Luciene, a comerciante poderia ter recorrido ao Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), por meio do qual o Sebrae atua como avalista complementar de financiamentos para pequenos negócios. “Ao invés de aceitar uma condição cara de garantia ou deixar a própria casa hipotecada, por exemplo, o micro ou pequeno empresário pode contratar o Fampe para complementar a garantia”, afirma.
O Fampe garante até 80% de um financiamento numa instituição financeira conveniada, dependendo do porte empresarial e da modalidade do empréstimo, cujas faixas de garantia (aval) variam de R$ 10 mil a R$ 700 mil. O fundo não substitui totalmente as garantias da própria empresa, nem pode ser utilizado quando o cliente já possui todas as garantias exigidas para o acesso ao recurso.
Para orientação especializada e para saber mais sobre serviços financeiros para micro e pequenas empresas, procure o Sebrae. Consulte também as principais linhas de crédito para microempresas e microempreendedores individuais.