Inovação e Tecnologia

06 julho, 2009 • Inovação e Tecnologia

Pneu vira carvão para alto forno e mistura para concreto ecológico

imagemA saída encontrada para reduzir passivos ambientais já está em prática em Campo Grande e brevemente será ampliada para municípios do interior. A solução para destinar 360 mil pneus usados a cada ano não será mais o enterro nos lixões ou fundo de quintal e muito menos cantos de borracharias. Com incentivos fiscais do município, empresa Ecopneus já investiu perto de R$ 2,5 milhões em instalações, aquisição de maquinário e pesquisas para transformação de toneladas de pneus em “lenha” para alto forno e – mais recentemente – complemento para ligas de concreto ecológico.

Estas duas soluções tem sido mecanismo eficaz utilizado na Capital e hoje absorvem 100% da demanda mensal de descartes de pneus, antes destinados para o aterro sanitário, borracharias e terrenos baldios. Além de eliminar focos da dengue e por fim a um passivo ambiental dos mais graves, o empreendimento está gerando empregos e renda para a população. Este modelo, porém, não surgiu de um dia para o outro e está em gestação desde 2006. Foi preciso buscar na Europa ferramentas corretas para baixar custos da reciclagem de pneus, considerada uma das mais complexas por força da mistura de borracha rígida e aço.

Localizada na saída para Sidrolândia, Bairro Tarumã, a Ecopneus é uma indústria recicladora ainda em estágio de implantação, mas já tem capacidade para absorver e transformar 200 toneladas/mês de pneus descartados em Campo Grande, mas quando estiver operando com capacidade máxima, a empresa vai triplicar produção com 700 toneladas/mês de chips (lascas pequenas – do tamanho de britas – e média, de pneus).

A utilização dos pneus de borracha trouxe junto à problemática do impacto ambiental, uma vez que a maior parte dos descartes estavam abandonada em locais inadequados, causando grandes transtornos para a saúde e a qualidade de vida da população, como intoxicação por fumaça e a proliferação das larvas do mosquito causador da dengue, o Aedes Aegypt.

Para se ter uma idéia, segundo organizações internacionais, a produção de pneus novos está estimada em cerca de dois milhões por dia em todo o mundo. Já o descarte de pneus velhos chega a atingir, anualmente, a marca de quase 800 milhões de unidades. Só no Brasil são fabricados cerca de 40 milhões de pneus por ano, Neste mesmo período metade dessa produção é descartada.

O resultado da parceria da Prefeitura Municipal de Campo Grande com a Ecopneus praticamente eliminou problema que hoje consome milhares de reais de outras grandes cidades brasileiras que não detém tecnologia para reaproveitamento de pneus descartados.

Na Capital, itinerários dos caminhões de coleta de pneus tem novo destino. Se antes a carga era destinada ao lixão, hoje é desviada do aterro sanitário para o depósito localizado no Jardim Tarumá. “De uma só tacada eliminamos dois sérios problemas ambientais que incomodavam o município, a população, o Ministério Público e as autoridades de saúde pública”, comemora o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, Marcos Cristaldo.

Lembra que até bem pouco tempo, caminhões do município precisavam fazer varredura pela cidade para recolher toneladas de descartes, num segundo processo, enterrar pneus em área específica do aterro sanitário. “Hoje a situação é outra e o resultado é de tal forma surpreendente que o novo empreendimento comercial vem agregando novas tecnologias que vão garantir sobrevida por muitas décadas”, aposta Marcos Cristaldo.

Mas essa tecnologia em pleno desenvolvimento na Capital não foi implantada da noite para o dia. O engenheiro Luis Renato Virgili Pedroso da Ecopneus, precisou correr o mundo para descobrir na Alemanha equipamentos compatíveis para transformação do pneu em chips. Todo o processo de reciclagem obedece quatro estágios.

Por ter componentes rígidos de difícil destruição, os pneus exigem trabalho de máquinas com grande capacidade de força. O pneu tem estrutura interna de aço, fato que dificulta mais o processo de reciclagem, assim como exige máquinas mais sofisticadas para fazer a separação do aço, incorrendo num custo mais alto para a trituração. “Mas nada que possa subtrair o lucro da empresa”.

Por enquanto, a Ecopneus trabalha em dois projetos diferentes; o primeiro já em operação é a produção de chips para queimar no alto forno de indústrias de cimento e fornecimento das cintas do aço retiradas antes da reciclagem para a Gerdau.

Para garantir matéria prima suficiente, a Ecopneus ainda conta com a coleta da Recicla Anip (Associação Nacional das Empresas Importadoras de Pneus) que percorre o interior e abastece a empresa em Campo Grande. “Nossa planta está montada para produção de até 700 toneladas mês de recicláveis de pneus. Hoje, por força da estrutura de coleta e espaços físicos ainda estamos muito longe de atingir esse teto, pois chegamos a apenas 100 toneladas, mas é apenas uma questão de tempo”, garante.

Concreto
Uma parceria com o Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) está possibilitando a Ecopneus criar um projeto inédito no País: o concreto ecológico. Com adição de 30% de Chips (pedaços de pneus) na massa, garante menor custo no preço final do produto.

Mesmo ainda em fase experimental o projeto já tem sustentabilidade e a produção. embora pequena, será adquirida pelo município para construção de calçadas em conjuntos habitacionais. Dois tipos de piso estão sendo formatados no projeto. “Estamos trabalhando nessa tecnologia e o resultado tem sido altamente satisfatório e surpreendente”, explica Luis Renato Virgili Pedroso.

Medidas mitigadoras
“O objetivo principal da recicladora, sem dúvida, é proteger o meio ambiente. Portanto, o município está fazendo o dever de casa oferecendo incentivos, através de legislações competentes e linhas de créditos específica se mostrando para a sociedade em geral que a importância do trabalho que desenvolvemos”, declara Marcos Cristaldo. Além disso, atenta para influência significativa que a reciclagem exerce no âmbito social, já que uma empresa chega a empregar 30 funcionários, em média. Esse ramo está em pleno desenvolvimento no mundo e nós estamos juntos. “No entanto, falta ainda um maior esclarecimento por parte do setor para que o mercado reaproveite esse material, a exemplo do que já acontece com a reciclagem de papel e de alumínio”, lembra o secretário.

Segundo Padilla, existem dois tipos de pneus: os radiais e os diagonais. Já o pneu do tipo diagonal, que tem uma estrutura interna à base de tecidos, é bem mais fácil de reciclar. Porém, a tendência é que tenhamos um crescimento na utilização de pneus do tipo radial, cujos investimentos para reciclagem são maiores.

Estimativas atuais demonstram que o resíduo gerado na produção da indústria da borracha no Brasil e que é jogado fora gera um prejuízo em torno de US$ 38 milhões. Para viabilizar o aumento dessa atividade seria interessante que houvesse incentivo econômico e uma legislação que estimulasse a aplicação desses resíduos reciclados nos compostos de outros produtos, exigindo, inclusive, que os fabricantes utilizassem uma porcentagem de borracha reciclada em seus produtos, como ocorre em Campo Grande com o projeto pioneiro da UFMS e Ecopneus.

O revendedor de pneus Marcos Domingos, trabalha no ramo a mais de 15 anos, considera a reciclagem e o reaproveitamento dos pneus usados uma medida que evita a poluição do meio ambiente. “Antes tínhamos um problema com os pneus velhos, pois, não sabíamos para onde encaminhar. Agora sabemos que a prefeitura tem um depósito de carcaças velhas. Isso ficou mais fácil para os borracheiros”, comentou.

Diariamente, Roque Dias Moreira, faz de cinco a seis carretos de pneus velhos para o depósito da prefeitura. Algumas carcaças ele reutilizada para recapear e as outras encaminha para o depósito da prefeitura. Segundo ele o trabalho proporciona uma renda mensal que varia de R$ 2 a R$ 3 mil. “Este é meu emprego. Recolho os pneus para evitar a poluição do meio ambiente e também garanto o sustento de minha família”, disse.

O borracheiro Jéferson Conceição comentou que o caminhão da prefeitura passa no local duas vezes por semana para recolher as carcaças. “Para nós é um trabalho muito bom. O pneu pode acumular água e proliferar o mosquito da dengue”, frisou.

História
O Pneu de borracha fez com que fossem substituídas as rodas de madeira e ferro, usadas em carroças e carruagens desde os primórdios da História. Esse grande avanço foi possível quando o norte-americano Charles Goodyear inventou o pneu ao descobrir, o processo de vulcanização da borracha quando deixou o produto, misturado com enxofre, cair no fogão. Mal sabia ele que sua intenção revolucionaria o mundo.

Fonte: http://www.diurnale.com.br/

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