Associação Broto Frutos começou modesta, para aproveitar a sobra da produção agrícola e os frutos que caiam das árvores nativas nos sítios, e hoje representa bem um fenômeno conhecido como “mundialização da cultura”.
Há quem não goste, mas para quem gosta, o que pode ser melhor do chocolate? Creme de avelã, talvez. E se um creme denso, levemente particulado, feito da castanha de um fruto do cerrado brasileiro e adoçado com açúcar mascavo, for tão delicioso quanto os dois anteriores? Aliás, se consideradas suas propriedades para a saúde, o brigadeiro de castanha de baru pode até levar vantagem sobre seus concorrentes infinitamente mais famosos.
O brigadeiro é o principal atrativo que a Associação Broto Frutos Culinária do Cerrado oferece para degustação nos eventos de que participa, capturando de imediato a atenção dos visitantes para os demais produtos. Biscoito de araruta, geleia de buriti, pão de pequi, suco de mangaba, torta de jatobá são alguns exemplos dos alimentos naturais e 100% integrais criados e produzidos pela associação com frutos extraídos do cerrado ou ingredientes orgânicos produzidos em assentamentos do Mato Grosso do Sul.
A associação Broto Frutos surgiu em 2013 e hoje reúne cerca de 20 associados. Parte do grupo é de pequenos agricultores familiares dos assentamentos rurais Nova Aliança, em Terenos, e Melodia, em Ribas do Rio Pardo. Eles são responsáveis pela produção dos ingredientes nas hortas orgânicas e coletam os frutos do cerrado, como bocaiuva, pequi e jatobá, por exemplo. A outra parte trabalha diretamente na fabricação dos bolos, pães, ‘doces’ e biscoitos na sede da associação, na Incubadora Municipal Norman Edward Hanson, em Campo Grande.
Mundialização da cultura
A iniciativa começou modesta, para aproveitar a sobra da produção agrícola e os frutos que caiam das árvores nativas nos sítios dos produtores nos assentamentos. Hoje representa perfeitamente um fenômeno chamado pelo sociólogo brasileiro Renato Ortiz de “mundialização da cultura”. Paralelamente à globalização – movimentação de grandes empresas e capitais – a mundialização diz respeito à economia dos pequenos negócios cruzando as fronteiras e ganhando o mundo, sempre envoltos de elementos culturais locais.
Este é o caso da Broto Frutos, que começou como uma pequena produção de alimentos saudáveis para buffets em festas e cerimônias. Apenas dois anos depois, seus produtos chegaram à Expo Milano 2015, considerada a maior feira de gastronomia do planeta**, voltada aos sabores e tradições das comunidades. A presidente da associação, Rosa Maria da Silva (54 anos), credita o feito ao apelo sustentável do associativismo e do extrativismo como fatores de geração de renda para as famílias a partir de elementos naturais, conectados à cultura do Mato Grosso do Sul.
“Além de expor nossos produtos Itália, com o apoio do Sebrae também fui a Nova Iorque para falar dessa iniciativa das mulheres da agricultura familiar e recebi o convite para fazer um intercâmbio com mulheres agricultoras africanas no Egito”, conta Rosa Maria, satisfeita também com as oportunidades recebidas no próprio Estado.
Além da participação em feiras e dos serviços em buffets e cerimônias institucionais, os produtos da Broto Frutos já são distribuídos de mercadinhos de bairro a empórios gourmets, de todas as classes sociais. Outra frente de atuação são as compras governamentais. A associação fornece seus produtos agrícolas para os programas de alimentação escolar locais e para o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDS), por exemplo.
“Devemos grande parte desse sucesso à ajuda de instituições como o Sebrae, que nos acompanha desde as primeiras capacitações e elaboração do plano de negócios, e da Universidade Federal [UFMS], que nos capacitou sobre os frutos do cerrado”, relata Rosa Maria, ressaltando o valor reconhecido por essas instituições na economia criativa por meio do associativismo e do extrativismo. A partir de então, foi uma questão de adaptar as receitas das mães e avós para transformar sementes, poupas e farinhas em “delícias saudáveis”.
Produção local
De acordo com a assistente técnica do Sebrae Natália Leite, o pequeno produtor rural encontra na instituição uma vasta gama de opções de qualificação em todas fases da produção e comercialização dos alimentos, inclusive para o poder público. “Entre elas eu destaco o No Campo, que é um pacote de educação empreendedora para produtores rurais, com treinamentos sobre liderança e gerenciamento da produção, por exemplo”, diz.
Já a analista técnica do Sebrae Andrea Barrera de Almeida ressalta as diversas iniciativas da instituição relacionadas à valorização dos alimentos saudáveis e com apelo na cultura local. “Nosso trabalho visa aproximar os pequenos produtores locais dos estabelecimentos urbanos, como bares, restaurantes e mercados. Buscamos construir ponte que fortalece a economia criativa e ajuda empreendedores de talento, como os associados da Broto Frutos, a alcançar o sucesso”, enfatiza.
Para saber mais, procure o Sebrae.