Não adianta deixar tudo para a última hora e somente dizer ao filho, já adulto, que gostaria de vê-lo trabalhando na empresa e, quem sabe, até assumindo o comando um dia. Especialistas no assunto garantem que o interesse do filho para o negócio deve ser despertado ainda na infância, por volta dos cinco anos.
“O interesse não deve ser imposto e sim conquistado, atrelando o negócio ao talento natural percebido pelos pais durante o processo da educação na relação com seus filhos”, explica Rosângela Barcellos, Consultora e Coach de Executivos, Vida, Carreiras e Equipes da RBT Consultoria e Coaching. “Os pais devem ter o papel de educadores conscientes, respeitosos da individualidade da criança em sua singularidade. Não se deve ‘abafar’ o verdadeiro potencial revelador da criança em detrimento da expectativa dos pais ou de desejos não realizados pelos mesmos em suas trajetórias profissionais” ressalta Rosângela.
A consultora ainda explica que o processo de construção da identidade de uma criança para despertar desejo para um negócio, deve necessariamente passar pela educação recebida dos pais, dos valores construídos em família, e principalmente oportunizar que a criança revele seu verdadeiro potencial para expressar sua criatividade nos diversos momentos da trajetória de sua vida.
Um exemplo que deu certo foi o da empresária Marlene Izzo, de Novo Horizonte do Sul. Marlene sempre incentivou suas filhas Nathália dos Santos Panini e Marcelli dos Santos Panini de 15 anos e nove anos respectivamente, a frequentarem a fábrica de confecção de roupas da família Izzo Panini. “Com dez anos eu já levava a Nathália para a fábrica e pedia para que me ajudasse nas pesquisas de modelos, com recortes de revistas e pesquisas na Internet, mas nunca impus nada a ela e sim proporcionei que ela se familiarizasse com o ambiente”, explica.
Hoje a jovem ajuda no desenvolvimento de modelagens para uma linha infanto-juvenil que já proporcionou um aumento de 50% no faturamento da empresa. “Esta era minha ideia e hoje se tornou desejo dela estudar moda e assumir a linha de criação da empresa, já a caçula, adora a área de produção, já pretendo direcioná-la para este setor incentivando-a a estudar para que também assuma a área que gosta, mas ressalto que elas escolheram, eu apenas as aproximei dos negócios, mas a escolha é da Nathália e da Marcelli”, completa a empresária.
Em Campo Grande outro negócio de sucesso e que está há mais de 30 anos no ramo de alimentos é o Thomaz Lanches. O empreendimento familiar tem um belo exemplo de como o encaminhamento e a oportunidade que os pais proporcionam aos filhos desde pequenos podem dar certo.
José Thomaz Filho exemplifica esta ideia e como filho que se orgulha de ter assumido os negócios com o pai. “Assumir o negócio com meu pai foi uma atitude acertada, principalmente porque a confiança impera dentro da relação pai e filho. E como meu pai mesmo disse, meu lugar era aqui e ele estava com a razão, a partir daí as coisas começaram a dar certo. Nosso movimento começou tímido e novos clientes foram aparecendo, isso culminou com esta forma de servir onde o cliente é quem dita as regras, o que hoje é um marco em nossa empresa”, explica.
A lanchonete trabalha de forma que os clientes se servem e não há um controle, os empresários confiam na honestidade do cliente em falar na hora de pagar a conta o que consumiu. O que tem dado certo desde 1978 e que segundo o empresário, se depender dele, deve continuar com seus filhos. “É fato que meus filhos terão toda a liberdade de escolha com relação a profissão a seguir, mas por outro lado como eles acompanham de perto essa relação familiar nos negócios, a confiança e credibilidade, eles naturalmente se voltam para nós, dando opiniões, participando de alguma forma. Com nosso crescimento com certeza eles farão parte da empresa”, destaca.
Para você que deseja contar histórias de sucesso como essa a consultora dá três conselhos:
• Oportunizar espaços que permitam a expressão da criatividade e da revelação de talentos da criança;
• Estimular os aspectos positivos e reveladores em todos os momentos que surgirem;
• Desafiar a criança a superar seus limites e barreiras para enfrentar o desconhecido.
“Meu avô dizia que ‘quem não tinha um velho em casa teria que comprar um’. Dar seguimento a um negócio da família é como se perpetuar uma espécie, é virar exemplo a ser seguido”, completa José Filho.
Texto de Paula Machado
Estação Sebrae Online