Segundo pesquisa da ABMRA (Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio), a presença da mulher em funções de decisão nos empreendimentos rurais apresentou um salto impressionante nos últimos quatro anos, triplicando sua importância na gestão da atividade rural de 10% para 31%.
Apesar de o campo parecer um cenário majoritariamente masculino, muitas mulheres em Mato Grosso do Sul e ao redor do país têm mostrado que esse cenário está mudando dia a dia. Com uma bagagem cheia de conhecimento, equilíbrio, sensibilidade e foco, elas roubam a cena e mostram que o agronegócio é lugar de mulher sim.
Que o diga Edy Elaine Biondo Tarrafel, presidente do Sindicato Rural de Ivinhema e Novo Horizonte do Sul, e membro do Conselho de Vice-Presidentes da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul). Aos 39 anos, sua história com a agropecuária vem de longe. Filha de pecuarista, frequentemente acompanhava feiras agropecuárias e leilões de gado. Seu passeio de férias era sempre na fazenda.
A vida no campo, no entanto, falou mais alto quando, aos 20 anos, com a perda do pai, Edy Elaine precisou assumir a administração da propriedade de sua família, com o apoio da mãe. “Quando comecei a cuidar da nossa propriedade, sem ter passado por uma sucessão, foi complicado. Por ser mulher e muito nova, as pessoas tiveram uma certa resistência, não acreditavam que eu iria conseguir. Mas com o passar do tempo fui ocupando meu espaço, ganhando a confiança e admiração das pessoas. Provei que era capaz, busquei conhecimento, capacitação e instituições que me dessem suporte”, conta.
De lá para cá, muitas águas rolaram. Além de suas funções no Sindicato Rural e na Famasul, Edy Elaine também divide seu tempo com a criação de seus filhos, o casamento, e a fazenda Nara Edy, em Ivinhema, onde, junto de seu marido, trabalha com pecuária e desenvolve a integração com a lavoura de mandioca. “Gosto sempre de falar que nós mulheres temos um diferencial no nosso DNA, que nos permite atuar em diferentes atributos ao mesmo tempo. Podemos ser produtoras, mães e esposas. Temos uma habilidade na nossa comunicação que nos permite aprender, ensinar, prevenir e evitar problemas onde atuamos. Essas habilidades vêm abrindo caminhos para essa nova geração e inserindo nós mulheres em lugares onde antes só eram ocupados por homens”, afirma.
Como conselho para as novas produtoras, Edy Elaine é assertiva: “Sigam em frente, conquistem seu espaço, participem de instituições ligadas à sua classe, troquem experiências e nunca desistam de seu sonho.”
Força feminina
A gaúcha Jussara Feltrin Moraes nasceu no campo. Filha de produtores no Rio Grande do Sul, quando se casou e se mudou para Campo Grande-MS, também acabou por se envolver com a vida rural, trabalhando com lavouras. Hoje, já com quatro filhos e oito netos, divide a vida entre a cidade e o campo. “Vou duas vezes por semana trabalhar com suinocultura próximo a Anhanduí e uma vez nas lavouras em Terenos. Há mais de 15 anos senti necessidade de voltar às origens e comecei a acompanhar o marido todos os dias. Hoje dividimos as tarefas. Como sempre gostei dos números, achei melhor cuidar das contas e fazer RH com os 98 funcionários. Trabalho bastante, mas gosto muito do que faço”, conta.
Jussara acredita que a presença feminina no campo deve ser encorajada. “Incentivei uma das minhas filhas a seguir neste ramo também e hoje ela administra a suinocultura. Além disso, há mais de 10 anos fazemos um trabalho incentivando as mulheres dos funcionários a trabalharem também. Cada uma com sua capacidade e conhecimento, tendo oportunidade de crescer. Todas felizes e remuneradas. Gosto muito desse trabalho de mulheres ajudando outras mulheres”, afirma orgulhosa.
Com orgulho
Maria Eloá de Sousa Rigolin é mais uma mulher apaixonada pelo campo. A paixão começou ainda criança, quando o pai batizou a fazenda da família com o nome de Eloá. Desde então, as decisões profissionais da paranaense sempre foram ao encontro da agropecuária.
Na década de 1980, quando ainda cursava a faculdade de Zootecnia, passou a trabalhar no segmento, envolvendo-se em exposições agropecuárias e leilões de gado, até que, em 1988, decidiu entrar de vez no ramo e criou a Nutrizoo, uma empresa de nutrição animal.
No início dos anos 2000, Eloá empreendeu novamente, dessa vez com a Produzoo, uma consultoria e planejamento em agropecuária, em Ivinhema, sempre defendendo os sistemas integrados de produção, que visam trabalhar em harmonia a pecuária e a floresta. “Defendo muito essa bandeira, pois acho que é a grande solução do nosso agronegócio. É ambientalmente sustentável, economicamente viável e traz equilíbrio para todo o setor”, explica.
Ser mulher nesse cenário é para Eloá uma dádiva divina. Ela acredita que as mulheres têm uma grande missão na agropecuária e isso está vindo a tona e as aproximando desse segmento. “Viemos para trazer equilíbrio em um meio muito masculino, mas que está pedindo a participação das mulheres. Nós somos capazes de humanizar o campo, suavizar esse meio tão competitivo entre os homens. Sou muito feliz sendo mulher e sou uma mulher do agro com muito orgulho”, finaliza.