A revista Você S/A publicou uma pesquisa realizada pela consultoria DBM mostrando o perfil do profissional que as empresas estão procurando hoje. Bem, todos os 6 comportamentos identificados pela pesquisa que aparecem como fatores comuns em executivos de sucesso são características essencialmente empreendedoras. Isso não é mera coincidência. Cada vez mais as empresas estão se preocupando com o lado empreendedor de seus funcionários, procurando talentos com espírito empreendedor no mercado e valorizando seus colaboradores internos que demonstram tais habilidades. Vejamos a seguir estes 6 comportamentos sob a ótica do empreendedorismo:
1) Comunicação. A comunicação é composta de três elementos: Um emissor, um receptor e uma mensagem. Uma boa comunicação se dá quando a mensagem flui do emissor para o receptor de forma que a compreensão do significado da mensagem pelo receptor seja a mesma que o emissor pretendia. Isto deve se dar nos dois sentidos entre os interlocutores. O empreendedor sabe ouvir e interagir de forma positiva com seu interlocutor e da mesma forma consegue ser claro na transmissão de sua mensagem. Consegue adequar sua linguagem ao nível do outro e tem facilidade em colocar seus pontos de vista, normalmente com poucas palavras, de forma objetiva e direta. Graças a esta habilidade, o empreendedor consegue chamar a atenção, captar o interesse, influenciar as pessoas e assim estabelecer parcerias e ligações importantes para suas aspirações.
2) Adaptação. É a capacidade das pessoas de se adequarem às circunstâncias ambientes com a rapidez necessária para tirar vantagem da situação ou minimizar os efeitos negativos das mudanças impostas. É o que chamamos de ‘jogo de cintura’ no empreendedor, uma flexibilidade extremamente valorizada nos ambientes dinâmicos e mutáveis em que se encontram organizações competitivas hoje no mundo. O empreendedor possui uma visão privilegiada que lhe permite identificar rapidamente as mudanças quando acontecem. Também tem uma rara capacidade de superação que transforma pessimismo em otimismo, facilitando a velocidade de reação com relação às mudanças.
3) Independência. Talvez esta seja a característica que mais descreve o empreendedor e também um dos valores que ele mais preza. Liberdade para agir, para tomar decisões, para errar! Muitos deixam seus empregos para se tornar empreendedores justamente para buscar esta independência. No meio corporativo, os profissionais empreendedores que não conseguem o mesmo grau de liberdade desenvolvem sua própria autonomia, arriscam-se a ir além dos limites de seus cargos e ousam tomar decisões sem terem autorização para tanto. Eles detestam depender de alguém ou algo e sempre que podem procuram a auto-suficiência, embora na prática saibam que os melhores resultados são obtidos em equipe.
4) Ansiedade. Esta competência está relacionada com um aspecto do empreendedor que muitas vezes se torna seu ponto negativo. O empreendedor é uma pessoa com muita energia, muita disposição, um pique acima do normal. É muito motivado pela realização, por atingir metas, resultados e objetivos. Neste sentido, não consegue ficar muito tempo parado, tem pouca paciência e está sempre em movimento. Muitas vezes prefere fazer a pedir, o que pode gerar alguma dificuldade em delegar e trabalhar em times. Como diz a reportagem na revista, ansiedade é boa na medida certa, até o ponto que conduz a picos de produtividade.
5) Criatividade. A contrário do que muitos imaginam, nem todo empreendedor é tão criativo quanto se pensa. O pensamento criativo está associado à capacidade das pessoas de enxergar o que ninguém vê, de perceber o que passa desapercebido pela maioria das pessoas, de vislumbrar possibilidades que ninguém detecta, de desenhar mapas do futuro que ficam fora do escopo de visão das pessoas normais. Esta competência pode estar presente em qualquer pessoa, dependendo do ambiente em que está inserido e na diversidade de estímulos e experiências pelas quais passou.
6) Liderança. Enfim, a habilidade que todos imaginam ser a panacéia das organizações de sucesso. Apesar de toda a aura ‘romanceada’ criada por gurus e escolas ao redor do mundo sobre o tema, o líder só existe enquanto tiver liderados. Nem todo empreendedor é líder, pois nem todo empreendedor precisa ter uma equipe; e nem todo líder é empreendedor, pois o empreendedor possui outras habilidades que nem sempre são utilizadas em trabalhos em equipe. Mas a capacidade de reunir pessoas com expectativas, motivações, perfis e histórias diferentes em torno de objetivos comuns e extrair o máximo que cada um pode produzir num grupo é uma competência cada vez mais valorizada nos empreendedores.
Destas 6 características, posso afirmar que duas delas (adaptação e independência) são comuns e obrigatórias em todos os empreendedores. As demais não estão necessariamente presentes em todos os empreendedores, mas fazem parte de perfis específicos e distintos que exigem habilidades que são complementares entre si e que, no conjunto, correspondem à equipe de sucesso.
Em meu livro ‘Espírito Empreendedor nas Organizações’ faço referência a cinco perfis distintos de empreendedores: Quatro deles já foram descritos aqui: Comunicação (perfil promotor), Ansiedade (perfil realizador), Criatividade (perfil criativo) e Liderança (perfil integrador). O quinto perfil é o do administrador, aquele que toma a idéia do criativo, desenvolve, colhe dados, estrutura-a, checa sua viabilidade e monta um plano de implementação que o realizador vai colocar em prática. O administrador é o empreendedor que escreve o plano de negócios, um assunto tão interessante quanto extenso, e, por isso, deixo para falar mais sobre ele em meu próximo artigo.
Texto de Marcos Hashimoto, Mestre em Administração de Empresas pela EAESP/FGV, Sócio-diretor da Lebre Consulting, Professor e Pesquisador da Business School São Paulo.
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