Os brasileiros têm um longo histórico de desinformação quando o assunto é dinheiro, planejamento financeiro e poupança. Esses são temas que beiram o tabu e (quase) nunca são lembrados em nossas conversas do cotidiano, o que mostra que o país ainda possui uma cultura imediatista, na qual poupar e investir a médio e longo prazo não são prioridade.
Dados confirmam essa ideia, como os números divulgados pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), que mostraram que seis em cada dez brasileiros não guardam seus rendimentos para o futuro e apenas 8% da população investiu seu dinheiro no ano passado.
Memória inflacionária
A história do nosso país é um dos pontos cruciais para entender o porquê de índices de poupança e investimento tão baixos. A maioria da população ainda tem uma lembrança muito vívida de tempos de inflação altíssima e confisco da poupança pelo governo. Mas, apesar de a inflação ter sido controlada há cerca de 25 anos, na prática, o pensamento de que poupar não vale a pena ainda é passado de geração em geração.
Além disso, há desconhecimento sobre as vantagens de se investir e de se fazer um planejamento financeiro. “Também podemos destacar que ⅔ da população não possui um nível de entendimento matemático que os permita compreender sobre taxa de juros, as complicações que o parcelamento pode trazer e como poupar a médio e longo prazo é válido para assegurar uma velhice confortável e realizar sonhos”, comenta o analista do Departamento de Educação Financeira do Banco Central, João Evangelista.
João explica que a cultura do parcelamento é outro ponto problemático. “As pessoas não observam o valor total dos produtos, dos juros (por mais baixos que eles possam ser) e o quanto sairia se a compra fosse feita à vista. A possibilidade de ter um desconto e ainda conseguir comprar mais de um produto quando a compra é feita à vista é muito grande, mas as ‘parcelas que cabem no bolso’ acabam sendo mais atrativas. Quem não parar para fazer as contas é seduzido”.
O que poupança e investimentos têm a ver com empreendedorismo?
Em contrapartida aos baixos números de investimento e poupança e desinformação sobre finanças, somos um dos países com a maior taxa de empreendedorismo. Segundo a pesquisa feita pela GEM (Global Entrepreneurship Monitor), 52 milhões de brasileiros possuem o próprio negócio. Quando comparados aos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), estamos em primeiro lugar no ranking de maior número de empreendedores.
É no planejamento financeiro que poupança, investimento e o sonho do próprio negócio se encontram. Seja na sua vida pessoal ou na empresa, controlar o dinheiro que entra, o que sai e fazer planos de médio e longo prazo, são cruciais para ter estabilidade nas finanças.
João Evangelista considera que a poupança a médio prazo, aquela reservada para a realização de sonhos, é onde se concentra o desejo de abrir uma empresa e mantê-la viva e crescendo.
“Sempre é preciso ter um objetivo, guardar dinheiro por guardar ou investir sem entender muito bem sobre rentabilidade, segurança e liquidez não é o ideal. Por isso a necessidade da educação financeira, um conhecimento crucial para os micro e pequenos empreendedores”, observa o analista.
Sem tabus ou complicação, aprender sobre finanças não tem segredo
E se você se identificou com o que descrevemos ou acredita não ter habilidade para se planejar financeiramente, fique calmo. A internet oferece uma infinidade de possibilidades para você poder aprender sobre educação financeira.
De acordo com João Evangelista, existem cerca de 800 opções disponíveis no mercado sem custo e que podem te ajudar a entender melhor sobre finanças. O próprio Banco Central oferece um programa chamado Cidadania Financeira, com dicas sobre como investir, poupar e soluções para os endividados.
João também cita o Vida e Dinheiro, uma parceria entre entidades e órgãos governamentais para ajudar a população a tomar decisões financeiras mais conscientes e assertivas. Sem contar os diversos aplicativos, sites e blogs que conseguem ajudar micro e pequenos empreendedores a organizar a vida financeira.