Iniciativas se espalham pelo país e demonstram que negócios de sucesso são aqueles que extrapolam a questão monetária
Quando você compra um produto, você se questiona se está pagando um preço justo ou contribuindo para uma causa maior? Isso é um comportamento que faz parte do que chamamos de Economia Sustentável.
Escândalos sobre a qualidade de produtos, condições de trabalho desumanas e muita lucratividade para pouco retorno ao funcionário são algumas das notícias que se propagam de forma recorrente sobre gigantes mundiais. Porém, esse assunto não deve ser preocupação apenas de quem é grande. Afinal, ele está fazendo o consumidor refletir cada vez mais sobre a sustentabilidade do seu consumo. Não só da parte ambiental, com reuso e reaproveitamento, mas também do lado social e colaborativo.
Suprir a necessidade por um consumo ético é um desafio para diversas empresas, e nicho de negócios para outras que enxergaram na Economia Sustentável uma direção de mercado. Esta macrotendência, uma das mapeadas pelo Sebrae no Caderno de Tendências visa quebrar os paradigmas da atual economia e propor novas formas de entregar valor aos consumidores. É aquela história de comprar de quem faz, do pequeno, do local; valorizar os recursos (tanto materiais quanto humanos) e encontrar novas alternativas (desde novas formas de produção colaborativa até de pagamento).
Ter um negócio com um propósito que vai além da lucratividade foi o fator que levou o empresário curitibano Jeferson Jess a criar a Caixa Colonial. Junto com a sócia, e esposa, Andréa Sígolo, ele seleciona o que há de melhor em determinadas regiões no interior do país (são queijos, geleias, patês, bolachas e embutidos), compra direto dos produtores rurais, gerando renda para as comunidades, e reúne a seleção em uma caixa. A curadoria, bastante cuidadosa, é feita por meio de viagens recorrentes do casal — Campo Alegre (SC), Prudentópolis (PR) e São Roque (SP) são algumas das cidades que já estiveram na Caixa. O serviço de assinaturas, disponível para todo o Brasil, já tem 180 assinantes ativos, e uma base de 250, com clientes em diversos estados do país. “A ideia é levar valores e sabores do campo para a porta do consumidor, com a comodidade da entrega em domicílio”, diz Jeferson.
Outro foco da empresa é abordar os aspectos culturais do produto, o que ajuda, inclusive, a agregar mais valor: na Caixa, o assinante recebe também um folder com um pouco da história de cada produtor. “As pessoas adoram ver esse olhar humano, saber a origem”, fala o idealizador, que salienta, ainda, que alguns dos seus clientes assinam a Caixa por já terem vivido no meio rural, e sentem saudades de determinados alimentos e sabores.
Esse desejo de trazer mais calma e história para dentro de casa no caótico meio urbano e de produtos pasteurizados é também um dos preceitos da Favo, que ajuda quem quiser plantar seus alimentos frescos em casa. A rede possibilita que moradores de centros urbanos adquiram conhecimentos sobre agricultura urbana, fornecida pelos “semeadores” cadastrados. Quase na mesma linha da Bliive: na plataforma de troca de conhecimentos, o tempo é a moeda válida — é possível ter aulas de inglês ministrando uma de culinária, por exemplo. Esse resgate da colaboração ocorre no Tem Açúcar?, do Rio de Janeiro. O site possibilita não só empréstimos de coisas na vizinhança, mas permite também aproximar as pessoas. Também no Rio, o Consertaêcadastra técnicos especialistas em diversos tipos de consertos — prática capaz de estender a vida útil de diversos tipos de produtos, evitando o descarte desnecessário.
Trabalhar e conviver
O número crescente de coworkings é outro sinal da necessidade de se rever modelos tradicionais de negócio: trabalhar em um espaço colaborativo, como a Casa 102, de Curitiba, permite, além de um gasto menor do que o aluguel de uma sala comercial, convivência com outras pessoas e empreendedores abertos a parcerias. O local também é ateliê e loja de várias marcas locais, que vão de cosméticos até comida. Conceito semelhante tem o Coletivo Alimentar, que não se apresenta como um restaurante, mas sim como um espaço que reúne entusiastas da cultura alimentar.
Iniciado sobretudo para ser um local de discussão sobre comida (palestras e cursos com especialistas sobre o tema são ministrados de forma recorrente), o Coletivo serve almoço, brunch, abriga um café e uma padaria (a Miolo de Pão). O modelo living lab permite que uma marca comece a se desenvolver no espaço, para ser autônoma depois, se assim desejar. Por isso, a padaria, por exemplo, paga ao Coletivo de 5% a 10% do valor de venda. “Ou seja, se eles produzirem menos, pagam menos, se produzirem mais, pagam mais. A ideia disso é não limitar a pessoa que está começando a pagar um aluguel fixo caro e falir em poucos meses”, explica o fundador do Coletivo, Luiz Mileck.
A experimentação e as atitudes sustentáveis (o Coletivo Alimentar planta alimentos em seu terraço e faz uso de uma composteira) atrai profissionais e marcas com os mesmos ideais. Se você, empresário, tem uma marca com esse conceito, mas dificuldade em realizar entregas de uma maneira limpa, a Eco Bike Courier é uma opção. A empresa zero carbono realiza o serviço com bicicletas, e atrai justamente parceiros com propostas semelhantes
Reciclar e economizar
Dentro da macrotendência Economia Sustentável, encontramos também a busca pela eficiência de recursos e o cuidado com desperdícios. Neste contexto, destaca-se o reuso e reaproveitamento de materiais como ideias centrais de novos modelos de negócios.
Na Caixa Colonial, há um cuidado especial com o estoque para não haver desperdício de produtos e dinheiro: por se tratar de mercadorias artesanais e sem conservantes, a durabilidade é menor. Logo, a empresa faz uma projeção de crescimento de assinantes, mas sem gerar muito estoque — o pouco que sobra é vendido de forma avulsa, ou atende alguma necessidade do cliente (em casos em que a caixa sofre alguma avaria). “Não calculamos um número muito maior do que já temos de assinantes. Trabalhamos bem essa questão logística para não ter desperdício. Fora que o trabalho por encomenda já é sustentável por si só”, acredita Jeferson.
É uma prática relativamente comum nos supermercados vender mais barato produtos próximos da validade — a Ndays se especializou no assunto e reuniu isso em um e-commerce, onde o consumidor compra por até 30% menos e as empresas cadastradas garantem a venda de seus produtos que estão próximos de vencer.
A empresa paranaense Casa Contêiner mostra como esta tendência também se aplica na construção civil. A proposta da empresa é uma casa de montagem relativamente rápida, construída por meio da reciclagem de contêineres marítimos, e que custa até 70% menos do que um imóvel tradicional.
Oportunidades para parcerias
E em um café, o que fazer com uma matéria-prima que vai sobrar todo o mês, inevitavelmente? O Barista Coffee Bar firmou uma parceria com uma empresa de Santa Catarina para produzir esfoliante com a borra.
Quem não consegue mesmo reaproveitar, pode destinar seus resíduos para o Goodtruck, foodtruck que recolhe e prepara alimentos que seriam descartados e os destina para pessoas necessitadas. Ou pedir ajuda para serviços como a Anjos, startup que conecta doadores, fornecedores e ONG´s, ou, ainda, chamar o “Uber do lixo”: a B2Blue, de São Paulo, conecta quem quer descartar com interessados na compra de materiais recicláveis.
Mais do que ecologia ou sustentabilidade, as empresas que já fazem parte da Economia Sustentável possuem um ideal muito maior do simplesmente gerar riqueza financeira. A competitividade destes negócios está intimamente ligada com seus propósitos, que é o que os conecta com seus consumidores. Ou seja: se você quer fazer parte dessa onda, esteja preparado para responder qual é o real propósito do seu negócio e como ele está desafiando a economia em que vivemos.
Fonte: https://clubesebrae.com.br/sebrae-trends/economia-sustentavel-novas-formas-de-entregar-valor