Campo Grande completou 118 anos. Da emancipação política à Capital em pleno progresso, incontáveis empreendedores acreditaram no potencial da cidade e ajudaram a construir sua história.
O Sebrae MS foi atrás dessas pessoas que, mesmo com algumas dificuldades, realizaram seus sonhos. Suas histórias – profissionais e de vida – se confundem com a história da Campo Grande. São essas histórias que temos orgulho de contar. Por isso, preparamos uma série especial.
Hoje, você vai conhecer a Merlei Aparecida Bueno da Silva e o José Zito Mendes da Silva. Ela do Paraná, ele de Pernambuco. Vieram crianças para Campo Grande, quando a cidade ainda fazia parte do estado de Mato Grosso. Se conheceram na década 1980 no comércio, nas lojas de decoração que se concentravam na rua 14 de julho.
Da amizade pro namoro, do namoro pro casamento e lá se vão 28 anos juntos, dois filhos e um empreendimento que garantiu casa própria, carro, viagens, estudos e muita, muita história.
Fundado em 2002, o supermercado Ferracine, localizado no bairro Cophamat, é daqueles que salvam a gente: tem de tudo, de produto de limpeza à carne fresca pro almoço. E está sempre aberto.
Três meses depois de inaugurar, o supermercado Ferracine virou notícia na cidade: foi o primeiro estabelecimento a colocar as prateleiras de produtos na diagonal. A novidade atraiu atenção da AMAS (Associação Sul-Mato-Grossense de Supermercados) e de muitos curiosos também, que acabaram se tornando clientes. Pode parecer uma mudança simples, mas não era comum na época e tinha um forte motivo, garante Merlei.
“Foi uma mudança estratégica. Nós tínhamos dois caixas, quatro corredores e nenhuma verba para instalar câmeras e sistema de segurança. Colocando as prateleiras na diagonal, cada caixa conseguia cuidar dois corredores”, explica Merlei, que relembra que teve o apoio de vários vendedores e parceiros, que abriram mão de um feriado para ajudar na mudança.
A preocupação do casal com a segurança era válida. Em 22 anos trabalhando com comércio (antes de abrirem o Ferracine, tiveram uma mercearia no bairro Tarumã por quase 7 anos), foram 69 assaltos, a maioria a mão armada. Mesmo assim, não desistiram.
Não desistir, inclusive, parece ser marca registrada desse casal de empreendedores. Quando abriram o Ferracine, existia apenas um outro supermercado na região. Nos últimos 15 anos, surgiram dois hortifrutis, dois açougues, dois supermercados de redes grandes, um atacadista e pelo menos mais um mercado pequeno como o Ferracine. O segredo para sobreviver a essa concorrência – que pode ser até desleal à vezes – está no relacionamento de carinho e respeito que construíram com os clientes.
“De cada um a gente sabe a história, sabe os problemas, as vitórias. Cuidamos de todos, mas as senhorinhas aposentadas tratamos com mais cuidado. Elas ligam, fazem o pedido e a gente entrega; se elas vêm até aqui, a gente ajuda a fazer a compra, coloca no carro, leva em casa. Para quem a gente conhece há mais tempo, a gente ainda anota na famosa caderneta. E não importa se estão comprando R$ 10,00 ou R$ 200,00. Isso que faz a diferença, tanto para eles quanto para nós”, conta Merlei.
Esse bom relacionamento não é só com os clientes. Hoje, o supermercado Ferracine tem apenas dois funcionários, mas já teve seis. Muitos ficaram mais de 10 anos, muitos voltam para visitar e são clientes.
O futuro
Abrir o próprio negócio foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, segundo Merlei e Zito, pois permitiu à toda a família realizar muitos sonhos, mas sacrifícios também foram necessários.
Zito é o primeiro a chegar, por volta das 7h, e o último a ir embora, por volta das 22h, muitas vezes o casal – que se reveza no caixa e cuida de todo o administrativo – fica sem horário de almoço, sem o futebol da quarta-feira, sem a pescaria com os amigos, sem a festa com os parentes e sem os feriados. Mas, vale a pena, garantem.
“O negócio é nosso e a gente que tem que cuidar. Somos comerciantes e amamos o que fazemos. Daqui tiramos nosso sustento, construímos um patrimônio e realizamos muitos sonhos. Vim embora com meu pai e mais 9 irmãos fugindo da seca e da miséria e Campo Grande nos acolheu”, relata Zito.
Com os filhos Ladine e Luiz Henrique já adultos, com 21 e 19 anos, respectivamente, o casal pensa em mudar de ramo, mas não em abandonar o comércio e muito menos a nossa querida Campo Grande.