Empreendedorismo

27 março, 2017 • Empreendedorismo

As lições de quem teve de desistir da sua startup

Era início de 2015 quando cinco sócios resolveram montar a startup “Tá Mais Barato” em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul: os analistas de sistema Francisco Eder e Marcelo Mendes; o administrador de empresas Laércio Sousa; e os publicitários Matheus Machado e Yasmin Rezende.

Por Bruno Navarros Fraga

Francisco Eder (segundo da esq. para dir.), com três de seus quatro sócios

A plataforma se propunha a ser um canal de pesquisa – no qual o usuário encontraria várias ofertas dos estabelecimentos cadastrados – e de vendas – para estimular a comercialização de produtos das empresas que forneciam informações sobre itens disponíveis e preços atuais.

Mas o sonho de estruturar a ideia e lucrar com um negócio rentável e escalável acabou após exatos dois anos. Da lição, ficaram algumas perguntas. A principal: o que deu errado? Francisco Eder, um dos sócios, responde sem rodeios:

“Nós tentamos criar uma necessidade que não existia”. E um dos princípios para o surgimento de uma startup é justamente propor-se a resolver um problema que pessoas ou empresas já enfrentam; solucionar uma demanda latente da sociedade. O prejuízo só não foi grande, segundo o empresário, porque ele não precisou contratar equipe de desenvolvimento de sistema.

Outra curiosidade vem à mente de quem quer ter uma ideia e transformá-la em uma startup: é possível mudar os rumos do barco em movimento ou, pelo menos, não afundar drasticamente quando se opta por parar?

Pra responder a essa pergunta é preciso conhecer um termo comum ao universo das startups: “pivotar” significa que o empreendedor optou por mudar o Modelo de Negócios depois de ter testado uma estratégia e não ter obtido os resultados esperados.

Startup tinha uma boa ideia de serviço, mas não conseguiu monetizá-la

 

1ª pivotagem da startup

A experiência – já que possui formação na área e é sócio proprietário de duas empresas (uma em desenvolvimento web e outra de sistema de gestão para micros e pequenas empresas) – ajudou Francisco Eder a tomar decisões importantes. Porém, não o livrou de enfrentar dificuldades e ter que abrir mão de sua ideia original.

“A gente teve a sacada inicial de disponibilizar para o público um comparativo dos preços de postos de combustíveis em Campo Grande. Em seguida, vimos que isso poderia ser aplicado a outros tipos de negócios e fomos até supermercados, lojas de departamento e vestuário. Até agência de viagens a gente tentou incluir na época. Da ideia, a gente já partiu impulsivamente para o mercado”, conta.

Essa foi a primeira pivotagem da “Tá Mais Barato”: ampliou o número de segmentos de empresas abrigadas na plataforma. Os sócios contrataram dois vendedores para oferecer o sistema às empresas da capital. A iniciativa foi uma frustração, já que havia poucos usuários cadastrados – potenciais compradores –, o que não despertou interesse.

pivotagem da startup

Em setembro de 2016, a “Tá Mais Barato” desistiu de ampliar o leque de segmentos de negócios, optou por cadastrar somente postos de combustíveis e supermercados – trabalho feito manualmente, pela própria equipe –, e buscou empresas e usuários na praça de São Paulo. Viu crescer de 200 para 4 mil pessoas cadastradas no aplicativo.

Só que ainda havia grandes desafios para resolver. Entre eles, a dificuldade em atualizar os preços do combustível e garantir mais empresas para a base de dados, de modo a entregar algo realmente atrativo ao usuário. Optou-se então por oferecer o sistema sem custos pelos três primeiros meses de uso.

3ª pivotagem da startup

Já em outubro os sócios decidiram procurar ajuda no então recém-inaugurado Living Lab MS, projeto de diversas instituições de ensino, pesquisa e tecnologia – entre elas o Sebrae/MS. Lá, tiveram acesso a orientações especializadas e conhecimento sobre as últimas novidades em tecnologia e gestão para startups.

Focaram a partir daí exclusivamente em supermercados e marcaram presença em outros estados brasileiros (além de MS e SP, ganhou terreno no RJ, BA e DF) para aumentar o número de cadastros. A estratégia funcionou, porém, a arrecadação ainda não era suficiente para manter a startup, já que poucas empresas permaneciam “assinando” a plataforma. Logo, foram obrigados a operá-la de forma totalmente gratuita, para obter mais adesão de empresários e torná-la mais atrativa ao consumidor. Desta maneira, tornou-se necessário buscar outra fonte de receita.

4ª pivotagem e fim da linha

Na última tentativa de salvar o negócio, transformaram a plataforma num Marketplace e tentaram lucrar com a entrega das compras realizadas. Não deu certo. O percentual a se cobrar do cliente final inviabilizou o negócio. O sonho de sucesso acabou em fevereiro de 2017.

“Mais importante que você levar uma solução às empresas, é você ter definido um problema que se propõe a resolver”, destaca Francisco Eder, que afirma já ter “partido para outra”. Desses dois anos, para o empreendedor, fica o aprendizado. “Se eu tivesse a informação que tenho hoje, talvez conseguíssemos ter sucesso ou, no mínimo, não teríamos perdido tanto tempo, dinheiro e desgastado nosso emocional”.

Living Lab MS

O Living Lab é um laboratório vivo que conta com startups trabalhando diariamente; além de palestras, orientações, mentorias e eventos inovadores. Para se instalar no local, os representantes da startup devem apresentar o projeto e realizar uma entrevista com os gestores do espaço. Mais informações, envie uma mensagem para o Living Lab.

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