Dona Inês é uma mulher simples, filha de imigrantes japoneses, sempre viveu no interior e passou a maior parte da sua vida tirando o sustento da terra, num pedaço de terra no interior de São Paulo. Primogênita de uma família com mais 8 irmãos, Inês teve que abrir mão de sua formação básica educacional para ajudar a sustentar a família e por isso não passou da quarta série do ensino fundamental.
Não querendo se conformar com esta vida sofrida, ao atingir a maioridade parte para a capital em busca do sonho de uma vida melhor. Em São Paulo, faz um curso de corte e costura, e passa a viver disto, atendendo freguesas em casa e, junto com o salário do marido, oficial de farmácia, começa a construir seu patrimônio, grão por grão.
A vida não foi fácil para ela. Já foi internada em clínica de tratamento de stress, sofreu um acidente automobilístico que quase lhe tira a vida, sua casa foi roubada por duas vezes e perdeu quase todos os seus bens, entre outras vicissitudes que só aumentaram sua determinação e força para pavimentar um caminho sempre ascendente rumo à sua visão.
Todas estas experiências substituíram a falta de formação e, a despeito da origem humilde, é uma mulher sábia e inteligente. Conduzindo a família com muita perseverança e positivismo, conseguiu colocar os dois filhos na faculdade e lhes deu uma chance de construir uma vida melhor do que a que ela teve. Eles cumpriram o prognóstico, vivem confortavelmente e lhes deram 5 netos que amam esta avó.
Passou por um tempo no Japão, com o marido, aproveitando a onda dos ‘dekaseguis’, brasileiros descendentes de japoneses que vão ao Japão atender uma alta demanda por mão-de-obra barata. Nos 5 anos que lá viveu, conseguiu levantar o patrimônio que precisava para construir o seu sonho: O seu próprio sítio no interior de São Paulo. Construiu lá sua casa e é onde vive hoje, cuidando de seu jardim e sua horta, tratando da sua criação de peixes e recebendo amigos em animados churrascos nos finais de semana ou partidas de buraco que chegam a virar a madrugada.
Mais do que ser uma mulher batalhadora, que venceu dificuldades, empurrou a família para o caminho certo e tem todo o direito de colher os frutos agora, na última etapa de sua vida vencedora, Dona Inês é o modelo do perfil empreendedor que uso para espelhar todas as teorias que tenho estudado sobre o assunto. Veja o que ela já me ensinou, sempre do seu jeito simples, poucas palavras, mas repletas de sabedoria: Jamais se esqueça de suas origens: Não sei qual é a sua definição sobre ‘sucesso’, mas seja qual for, quando atingi-lo, não se esqueça de onde você veio.
A humildade é sempre importante para mantermos nossa integridade e caráter. É fundamental para não nos corrompermos e impedir-nos de mudar nossos valores e princípios básicos que mostram a diferença entre o caminho mais rápido e o caminho certo.
Lealdade é ouro: Acredite nas pessoas incondicionalmente, você pode tropeçar e errar em algumas escolhas ocasionais, mas nenhum prejuízo decorrente de uma má amizade pode ofuscar o brilho das amizades verdadeiras. E quando elas são encontradas, cultive-as e preserve-as a qualquer custo, principalmente nos momentos de dificuldade, porque são nestes momentos que se manifestam e se fortalecem os laços verdadeiros e perenes.
Não se acomode, nunca: Seja um inconformado incansável. Jamais se dê ao luxo de parar de questionar, de mudar, de melhorar. Pense sempre que você poderá se tornar medíocre no dia em que desistir de lutar pelas mudanças e que neste dia, você deixará de caminhar para cima e começará a descer. Procure sentir o
incômodo de ficar parado, sem ter o que fazer. Mantenha-se ocupado o tempo todo, se não física, pelo menos mentalmente. Relaxar é importante? Sim, mas não corra o risco de se tornar um hábito.
Construa uma poderosa visão do futuro: Muitas vezes, é preciso carregar muitas pedras pesadas para pavimentar a sua estrada para o futuro. Sua motivação para carregar estas pedras é diretamente proporcional à sua esperança de realizar um sonho. Quanto mais forte for esta visão, mais determinação você encontrará para
enfrentar os desafios. Uma visão inspiradora alivia o peso das pedras. É uma forma de se ver as coisas de forma mais otimista sem se iludir.
Siga seus instintos: Quando não se tem uma sólida formação acadêmica, temos que compensar com nossa intuição. Mesmo que ela não seja muito boa e você cometa alguns erros ao tomar certas decisões, insista, pois só assim você afina sua percepção e sensibilidade. Compense a falta de formação com uma ampla experiência. Mantenha sempre acesa a chama da curiosidade. Conheça novos lugares, novas pessoas, novas comidas, novas experiências.
Não se esqueça, há sempre uma segunda resposta certa: Só assim você pode aprender e crescer. Se continuar pensando que a mesma resposta, geralmente a primeira, é a melhor e se aplicará sempre a toda situação, você estagna e não cresce. A melhoria só acontece quando experimentamos outras alternativas e, nestas tentativas, descobrimos coisas novas e surpreendentes que, de outra forma, não descobriríamos.
Ouse! Economize, sempre: Talvez por vir de uma cultura oriental, este conselho está premente nas mínimas coisas. Mesmo agora, com condições financeiras melhores, ainda é forte o foco na parcimônia, mas agora, com um viés de evitar o desperdício. Use apenas o necessário, evite a ostentação, a luxúria, pois, além de criar uma imagem negativa, acaba concentrando o valor das coisas nos bens materiais, quando na verdade, o maior valor é aquele que agregamos às nossas mentes, corações e espírito.
Autor: Marcos Hashimoto
Fonte: Lebre Consulting