Empreendedorismo

02 outubro, 2020 • Empreendedorismo

Como a pandemia tem impactado autônomos e MEIs do setor de eventos

Poucos setores da economia fora impactados pela pandemia de coronavírus de forma tão direta e imediata como o turismo e o setor de eventos. Sobre este último, inclusive, já falamos aqui sobre os impactos para as empresas do setor que, de acordo com a Associação Brasileira Eventos (Abrafesta), movimenta em torno de R$ 936 bilhões por ano (12,93% do Produto Interno Bruto do país) e gera cerca de 25 milhões de empregos (diretos e indiretos).

Como o setor de eventos movimenta uma grande cadeia de serviços que engloba salões e espaços para festas, buffets, decoração, salões de beleza, mas também fotógrafos, equipe técnica de imagem, luz e som, segurança, e entre outros, muitos profissionais autônomos e microempreendedores individuais também sentiram no bolso a mudança de realidade.

É o caso do jornalista e fotógrafo Renan Carvalho Kubota, que depois de trabalhar com fotojornalismo e apoiar equipes de fotógrafos em formaturas, abriu sua própria empresa e há cinco anos se dedica a fotografar casamentos.

“Nossa área sentiu imediatamente quando houve o primeiro decreto da prefeitura em março. Além de não poder executar os contratos que já estavam fechados e com datas marcadas, houve uma redução na procura por orçamentos. Fechei metade dos contratos que fecharia se fosse um ano normal. E a gente entende porque, em um momento de incerteza como esse, não é prudente gastar com festa”, explica Renan.

Diante da nova – e incômoda – situação, o fotógrafo e empresário enxergou possibilidades de readaptação: começou a expandir horizontes. “Comecei a fazer alguns trabalhos de publicidade e até ensaios, porque as pessoas não estão fazendo festa, mas fazem um ensaio para comemorar e ter de lembrança. Tem dado um bom retorno e são trabalhos que posso continuar fazendo no futuro, mesmo quando os eventos voltarem”, comenta.

Adaptando a decoração e os negócios

Assim como Renan, o último evento da decoradora Thais Thomé também foi no dia 14 de março e ela também enxergou novas possibilidades diante da difícil situação.

Formada em Publicidade e Propaganda, Thais começou a trabalhar na área fazendo decorações para batizados dos filhos e chás de bebês para algumas amigas até profissionalizar o negócio e abrir a Thais Thomé Festas há cerca de 8 anos.

No início, sua clientela era o público infantil, principalmente destas de 1 aninho, mas em 2014, fez a decoração do seu primeiro casamento e, na sequência, foram surgindo outros eventos, como aniversários de 15 anos, noivados e Mini Weddings.

“Ter uma empresa e ficar no negativo por dois, três meses é muito difícil. Março e abril foram totalmente parados, mas poderia ter sido mais difícil ainda se eu tivesse funcionários. Depois desse período inicial de susto em que tudo fechou, as pessoas começaram a se organizar para comemorar de alguma forma, e a prioridade são sempre os filhos, mesmo que seja para fazer uma mesinha pequena. Se fosse uma festa normal, os pais gastariam muito com buffet, lembranças, e etc, mas em casa, isso deixa de ser um gasto e eles investem bastante no visual, até pra criar cenários e registrar o momento para ter como memória”, explica Thais.

Nesse período e 6 meses, Thais teve apenas uma festa cancelada, as demais foram todas adiadas ou a empresária propôs alternativas. “Eu negociei pessoalmente e individualmente com cada cliente para ninguém sair no prejuízo e também para não frustrar ainda mais uma pessoa que já está frustrada com o adiamento da sua festa, porque a gente trabalha com expectativas, com sonhos. Alguns clientes ficaram com crédito para ser usado futuramente, outros preferiram reverter o pagamento para que eu montasse arranjos para casa, por exemplo, já que esse é um momento em que as pessoas estão ficando mais tempo em casa e querem a casa bonita, agradável”, comenta.

Não tem festa, mas tem animação

Contador e músico, o DJ Diego DS trabalha exclusivamente com eventos há cerca de 8 anos. Assim como muitos outros fornecedores do setor de eventos, realizou sua última festa no dia 14 de março e participou, no dia 15, do último dia do ExpoNoivas, uma das maiores feiras de Mato Grosso do Sul que reúne diversos serviços para atender noivos que buscam por fornecedores.

“Durante a feira, a gente faz muito contato, conversa sobre ideias, valores, mas costuma fechar mesmo no pós-evento. O que esse ano não aconteceu. Além disso, todos os eventos marcados para depois desse final de semana do dia 14/15 de março, foram remarcados e outros tiveram até o formato alterado, serão eventos para apenas 20 ou 30 pessoas, onde eu vou fazer o som da cerimônia e do jantar, mas não com a mesma estrutura e nem pelo mesmo tempo que seria uma grande festa”, comenta.

Por não ter funcionários e trabalhar sempre com parceiros para fornecer a estrutura de que precisa, Diego não ficou tão preocupado com a queda na procura, mas sabe que tem muita gente sofrendo com a falta de trabalho.

Com mais tempo livre, o DJ começou a movimentar lives em sua página no Instagram. “É uma forma de me manter ativo como empresário, porque vira uma vitrine do meu trabalho, mas também como artista, porque sinto falta de tocar. A música traz vida para a festa, por que não para uma noite de domingo via redes sociais? Consegui até atrair algumas noivas interessadas justamente por conta desse trabalho”, afirma.

José Contrera Eventos

Formado em Turismo em 2005, José Contrera já trabalhou como guia de turismo e foi o responsável pelos eventos oficiais da universidade onde se formou, como aulas magnas, formaturas, entre outros. Além do foco em cerimonial empresarial e eventos corporativos, também atende assessoria, organização e cerimonial de eventos sociais.

Mesmo tendo um leque tão diverso de opções, o profissional sentiu a queda na procura por seus serviços: acostumado a realizar cerca de 20 eventos por mês, às vezes até dois no mesmo dia, José não recebeu nenhuma solicitação de orçamento durante quase três meses. “Financeiramente a empresa está saudável ainda, porque eu tinha uma reserva emergencial, não tenho funcionários para manter e também porque não tive nenhum cancelamento, todos os eventos que já estavam marcados foram apenas adiados, então o contrato continua correndo e eu recebo as parcela. Mas não impus nenhuma obrigatoriedade quanto a isso, os clientes que escolheram manter o pagamento”, explica.

Contrera confessa que, quando a pandemia teve início, lá em março, a expectativa dele é que em agosto a situação já estivesse normalizada. Infelizmente, isso não aconteceu e o jeito é esperar mais um pouco, mas não sem otimismo. “Espero ficar doido de tanto trabalhar!”, brinca.

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