A bela e rica natureza do Pantanal sul-mato-grossense é mundialmente conhecida e atrai milhares de turistas todos os anos. Seja com produtos, serviços ou experiências, explorar a cultura pantaneira pode ser um negócio para lá de lucrativo.
O campo-grandense Paulo Machado percebeu o potencial da cultura regional há cerca de oito anos. Depois de largar a carreira jurídica para realizar o sonho de estudar e viver da gastronomia, teve diversas experiências, que incluem trabalhar como garçom no restaurante Julia Cocina (da badalada MasterChef Paola Carosella) até um estágio no espanhol três estrelas Martin Berasategui.
De volta ao Brasil, Paulo montou cursos de gastronomia para repassar o que tinha aprendido na Europa, iniciou um Mestrado e começou a desenvolver estudos no Centro de Pesquisas de Gastronomia Brasileira da Univerdade Anhembi Morumbi.
Com o apoio da Fundação de Cultura de MS, Paulo pesquisou a comensalidade no Pantanal sul-mato-grossense. Ou seja, a maneira como as pessoas daqui recebem quem vem de fora, a roda de tereré, os bailes, a carneada, o churrasco e muito mais.
“As cozinhas regionais têm alto potencial de negócio para gerar lucro. Ao passo que você usa ingredientes locais, essa matéria-prima é naturalmente mais barata e dificilmente vai ser encontrada em outra região, o que é um atrativo, um diferencial”, comenta Paulo.
Com um Instituto que leva seu nome, o cheff promove pesquisas, cursos, palestras e consultorias na área, levando a cozinha brasileira, sobretudo a sul-mato-grossense, para todo o mundo. A ideia é que as pessoas se interessem pela experiência e venham visitar o Estado.
“A receptividade dos nossos sabores é muito boa, porque as pessoas não esperam um prato como a sopa paraguaia, se surpreendem com o sabor dos peixes de água doce e com a maciez da nossa carne. Os pratos à base de mandioca e de frutas como guavira e bocaiúva são os que mais agradam”, revela.
Orgulho nos pés
Foi com sentimento de gratidão e orgulho pela terra que o acolheu que o carioca Marcos Cézar Sales criou a marca “Chinelos Pantaneiras”.
O negócio, que nasceu depois de um sonho, é a realização profissional e de vida do jovem empresário que começou quatro faculdades diferentes (sem terminar nenhuma), prestou alguns concursos e trabalhou com criação de galinha, reforma de carros antigos e até vendas de lingeries. Sem se contentar com nada.
“Eu literalmente sonhei com essa empresa. No meu sonho vi todos os detalhes do produto, as estampas e até o nome. É uma referência sim à lider mundial de chinelos, mas acredito que meu produto tem um diferencial – que são as estampas – e tendo qualidade, vai ter espaço para ele no mercado também”, declara.
A marca, que começou com um investimento inicial de pouco menos de R$ 50 mil (fruto da venda de um carro), explora o Pantanal em suas estampas com imagens tipicamente sul-mato-grossenses: são ipês, onças, bois, capivaras, araras, tuiuiús e muitos outros desenhos e paisagens. Na tira do chinelo, ao lado da marca “Pantaneiras”, uma bandeira de Mato Grosso do Sul é também uma homenagem à nossa terra.
Os chinelos, fabricado em 98% borracha e 2% EVA e, por isso, mais resistentes, são conhecidos como “Havaianas do Pantanal” e já conquistaram o público: Marcos tem atendido pedidos de vários estados brasileiros e até mesmo do exterior, como Miami, Canadá e Itália.
“A maioria dos meus clientes são turistas ou estão indo viajar. Compram para levar como uma lembrança ou para dar de presente para alguém de fora. O fato de termos os modelos rasteirinha que são mais femininos e os infantis também agrega valor”, revela.
Além da loja física, Marcos participa de eventos esportivos pelo Estado, sempre com sua loja itinerante montada em uma kombi. Mais uma surpresa inusitada de sua marca.
Talento de família
Brincando de massinha na infância em Guia Lopes da Laguna, Júlio César Nunes Roldão descobriu um dom: o de modelar animais, personagens e tudo mais que quisesse. Autodidata, se tornou um artista, repassou os ensinamentos à família e mesmo já falecido desde 2010, continua sendo a inspiração do sobrinho, o artista plástico Cleber Ferreira de Britto e sua esposa, Fabiane.
Há 24 anos o casal vive de modelar bichos que são símbolo do Pantanal em argila, pintá-los à mão do jeito mais fiel possível e vender para turistas. A onça pintada é o carro-chefe e os pedidos vêm de cidades como Bonito, Três Lagoas, Recife, Fortaleza, Florianópolis, São Paulo e Brasília, além de colecionadores, que fazem pedidos exclusivos e bem específicos.
O ateliê do casal fica na casa própria que eles estão terminando de construir. Além da casa, viver do artesanato possibilitou à família ter carro, estudos para os dois filhos e uma vida confortável. Tudo graças às jornadas de trabalho que beiram as 16 horas por dia.
“Sempre trabalhamos muitos e nunca ficamos sem pedidos. Tenho uma fila de espera de seis meses. Amamos o que fazemos e não nos vemos fazendo outra coisa. As coisas melhoraram bastante de 2009 pra cá, quando procurei o Sebrae, abri o MEI e com os treinamentos e cursos passei a ter uma visão mais empreendedora. Se eu já não me via fazendo outra coisa, agora é que acho que estamos só no começo”, compartilha Cleber.