Qualquer que seja o resultado das eleições americanas, o pequeno empresário brasileiro deve prestar muita atenção para não ter as exportações prejudicadas.
No dia 8 de novembro, os eleitores norte-americanos vão às urnas para eleger o novo presidente dos Estados Unidos, de longe a maior economia do planeta. Enquanto o republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton se digladiam pela sucessão de Barack Obama, o mundo aguarda ansioso o desfecho de uma eleição que sempre provoca profundos impactos globais nas áreas econômica, comercial, diplomática, humanitária e ambiental, entre outras.
E o que tem o Brasil a ver com isso? Conforme a analista da Unidade de Assessoria Internacional do Sebrae, Bruna Letícia Rodrigues, o Brasil ficou à margem da campanha presidencial, principalmente por causa da crise política e econômica e por não ter mais uma posição de destaque no cenário internacional. “O centro dos debates foi a imigração, tema que pode impactar os mais de 700 mil brasileiros que vivem irregularmente nos Estados Unidos”, acrescenta.
Do ponto de vista macroeconômico, o economista Hudson Garcia, da Agricon Consultoria, avalia que, como o Brasil vive uma forte crise de confiança e por ser um grande exportador de commodities, qualquer oscilação na política econômica dos Estados Unidos impactará os negócios por aqui. “Principalmente se o presidente eleito cogitar uma política de barreiras comerciais. Como aquele país é um expressivo comprador dos produtos brasileiros, isso acenderia a luz amarela na nossa economia”, diz.
Para o economista, essas barreiras comerciais podem vir em forma de aumento de impostos sobre os produtos brasileiros, tornando-os mais caros e menos atrativos aos compradores, ou de cotas de importação. Como as micro e pequenas empresas também têm exportado bastante para os Estados Unidos, isso poderia afetar os nossos pequenos negócios.
“Há ainda o risco de o Banco Central norte-americano [FED, ou Federal Reserve System] aumentar a taxa de juros básica, o que levaria mais recursos para lá e afetaria os investimentos aqui e, consequentemente, toda a nossa cadeia produtiva, incluindo os pequenos negócios”, explica Hudson, lembrando que uma decisão nesse sentido independe do presidente eleito.
Hillary Clinton ou Donald Trump?
Durante a campanha, Hillary pautou-se por uma agenda econômica mais doméstica, apresentando propostas voltadas ao aumento da renda das famílias norte-americanas, com benefícios fiscais para famílias endividadas, melhores salários por meio de investimentos em infraestrutura. Ela também declarou que pretende reduzir a burocracia para pequenos negócios, incentivar a distribuição de lucros entre funcionários e aumentar o salário mínimo.
“Historicamente, os democratas têm adotado a postura do multilateralismo nas relações comerciais, o que pode representar uma vantagem econômica para o Brasil, em contraposição a uma política mais fechada defendida pelos republicanos”, afirma Hudson, acrescentando: “Além disso, a Hillary conhece o Brasil, já elogiou os fundamentos do nosso país e, por isso, poderemos ter mais facilidade de diálogo com o seu eventual governo”.
Por outro lado, depois de ficar marcado por propostas como a construção de um muro na fronteira com o México para conter a imigração ilegal, Trump sinalizou para uma reforma na tributação, com o intuito de aliviar os impostos pagos pela classe média e pelo setor financeiro. No plano macroeconômico, o ponto mais relevante é a proposta de forçar as grandes empresas norte-americanas a produzirem lá e não no exterior, para gerar mais emprego no país.
Hudson não acredita, no entanto, que, caso eleito, Trump consiga emplacar uma agenda tão isolacionista, protecionista e contrária ao livre comércio como propõe, pois os poderes do presidente na maior economia do mundo são muito mais limitados do que em outros países igualmente presidencialistas.
No mesmo sentido, Bruna avalia que as relações entre Brasil e Estados Unidos não devem mudar substancialmente após a eleição, independentemente do resultado. Ela menciona a opinião do professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Antonio Jorge da Rocha, para quem “é possível que aumente a pressão para abrir o mercado brasileiro em algumas áreas e que haja alguma retaliação caso o câmbio continue depreciado. Mas serão pressões setoriais, facilmente administráveis pelas burocracias, que se conhecem e se respeitam”.
E os pequenos negócios, como são afetados pelas eleições americanas?
Para Hudson, diante de qualquer resultado, o pequeno empresário brasileiro deve avaliar muito cuidadosamente “em quais cestas colocar os ovos” e diversificar ao máximo seus mercados, em caso de exportação.
“Não foque num único mercado, principalmente no norte-americano. Procure diversificar com a União Europeia, o Japão e o Reino Unido. A pequena empresa exportadora jamais pode ficar dependente de um só país”, completa o economista.
Para saber mais, procure o Sebrae.