Há 13 anos, Rachel Torok deixou Niterói, no Rio de Janeiro, e mudou-se para Campo Grande para acompanhar o marido que havia sido aprovado em um concurso público. Turismóloga e professora de inglês, atuou nas duas áreas durante um tempo, até começar a sentir falta de alguns produtos e serviços que não encontrava na cidade.
Sua experiência de trabalho no Sistema S (no Sesc e no Senac) ampliou sua visão sobre o mercado sul-mato-grossense e Rachel enxergou, então, a sua necessidade como uma oportunidade para empreender.
Em 2014, já mãe do Theo, organizou a primeira edição do Bazar Banana Chique. “Percebi que aquele cenário de instabilidade econômica pelo qual o país passava era um bom momento para fazer um evento de desapego. Reuni mães para compra e venda de roupas, sapatos e acessórios infantis novos e semi-novos. Além disso, focamos em trabalhar com parcerias, foi um evento que já nasceu colaborativo, e também com uma causa social, pois 10% da receita das vendas era destinada para uma instituição de caridade”, conta.
Mas o sucesso do Bazar não foi por acaso. Antes de lançar a primeira edição, Rachel procurou o Sebrae MS. Com um plano de negócios bem estruturado, o evento fazia mais sucesso a cada edição. No total, foram quatro. O público foi crescendo, fidelizando e Rachel entendeu que poderia aproveitar o evento para lançar um negócio.
“Na minha pós em gestão empresarial, aprendi que a gente precisa experimentar pra ver se o mercado aceita e absorve o que você quer oferecer. Então eu enxerguei o evento como uma possibilidade para testar um produto novo, uma linha de peças infantis de uma amiga estilista lá do Rio”, explica.
O produto foi bem aceito e Rachel bolou uma estratégia para a marca ir penetrando aos poucos o mercado campo-grandense. Montou a Nicos e Nicas em sua própria casa, foi trabalhando a divulgação pelas redes sociais, além de expor em algumas lojas do segmento pela cidade e continuar promovendo o Bazar. Foram praticamente dois anos assim.
“Até que percebi que realmente a demanda cresceu muito e que precisava deixar de ser itinerante, ter um lugar fixo para expor os produtos e receber os clientes. Assim, em 2017, nasceu a Bananeira Kids, uma loja colaborativa da qual a minha marca, a Nicos e Nicas, é uma das participantes”, explica.
Sabendo que a empresa precisaria de capital de giro – e que todo começo é difícil – Rachel aceitou uma proposta de emprego de meio período e investia todo o salário na loja. Cerca de um ano depois, não conseguiu mais conciliar e então passou a se dedicar exclusivamente ao negócio. Em 2020, a Nicos e Nicas completa três anos e com resultados cada vez melhores.
Fatores de sucesso
Observando sua trajetória, Rachel listou alguns fatores que contribuíram para o sucesso da sua trajetória empreendedora.
O primeiro deles foi a seriedade na dedicação. “Às vezes, a mulher quando empreende coloca a empresa em segundo plano, o papel de mãe ou esposa se sobressai. Eu coloquei minha empresa como prioridade pra mim e pra minha família. Sei que só posso fazer isso porque tenho o apoio incondicional do meu marido. Mas nada foi por acaso, foi tudo construído em cima de muito suor e lágrimas. Acredito que a empresa é do tamanho que você imprime nela, se eu quero que seja grande para os outros, tem que ser grande pra mim também, então eu coloco nela toda a minha energia e toda a expertise que adquiri em outras frentes de trabalho”, defende.
O segundo fator de sucesso foi a capacitação. “Mesmo antes da Nicos e Nicas existir, o Sebrae já fazia toda a diferença porque era onde eu ia para estudar, onde me inspirava pra ter ideias, conversava com os professores e instrutores, e eles iam me dando caminhos para montar o negócio com mais propriedade. Já com a loja física, tive visitas periódicas de consultores do Sebrae, que me ajudavam a superar o olhar romântico que todo dono tem pela empresa, eles tinham um olhar mais imparcial e técnico que me fortalecia e me dava direcionamento para tomar decisões importantes e ousadas”, comenta.
E o terceiro fator Rachel afirma ser o próprio modelo de negócio escolhido por ela. “Uma loja colaborativa te permite a divisão de custos e do trabalho e a multiplicação de público. Não é um modelo engessado, é dinâmico, já chegamos a ter até sete CNPJs aqui, hoje somos em três, mas até a maneira como a arquiteta desenhou tudo não deixa transparecer essas mudanças. E continuamos com as parcerias também para oferecer um diferencial aos nossos clientes enquanto a marca faz a divulgação”, explica.
Dicas valiosas
Apesar de ter tido dia difíceis em que chegou até a desacreditar que as coisas dariam certo e a pensar em desistir, Rachel já se considera realizada com o que conquistou com as duas empresas, mas confessa que não se acomoda na zona de conforto, continua de olho no mercado e promete que não vai parar por aí.
Para as mulheres empreendedoras que sonham em abrir a própria empresa ou que já estão no processo, Rachel tem algumas dicas valiosas que podem ajudar a seguir firme na caminhada.
– Conheça-se: “A mulher precisa descobrir o que ela quer de verdade, qual a sua ambição, até onde quer chegar. Eu recorri à ajuda de um coach, mas existem diversas ferramentas para isso. Entendi que eu tenho outros papéis, como mãe, esposa, filha, mas que também precisava me realizar como empreendedora. Eu me encontrei e isso não é regra pra todas as mulheres, não significa que todas têm que fazer o mesmo que eu”.
– Envolva sua família: “Se você chegou à conclusão que quer seguir uma carreira empreendedora, mas ainda encontra dificuldade de conciliar, você precisa conversar com sua família, se entender com seus pares e firmar alguns acordos para que você não seja sabotada nem se sabote durante o processo”.
– Procure ajuda especializada: “Gostar do que faz é importante, mas é fundamental enxergar se sua empresa é lucrativa e dá retorno real. Uma empresa existe pra te dar lucro, pra te sustentar. Preparar-se por meio de cursos, workshops e contar com consultorias profissionais foi a maneira que eu encontrei de garantir crescimento sustentável”.
– Seja presente e ouça seus clientes: Rachel é mãe de menino, mas o foco de sua marca é nas meninas. O que isso a ensinou? “A estar mais aberta a escutar a demanda em vez de só usar minhas impressões pessoais na escolha daquilo que vou vender. E eu só consigo isso se estiver presente na loja no dia a dia das vendas. Não existe abrir uma empresa e não ficar na empresa”.
Apesar da rotina de dedicação, Rachel afirma que é possível ter vida fora da empresa. “Tirei férias de 30 dias para descansar junto da família. Tudo é planejamento. Eu trabalho muito na minha empresa, mas não sou escrava dela. Empreender é um risco? É, mas tudo é risco. Prefiro arriscar pra ser feliz e hoje sou muito feliz!”, finaliza.