A consequência da pandemia de coronavírus no comércio brasileiro para o segundo semestre é o desemprego. De acordo com os dados divulgados pela Organização Mundial do Trabalho (OIT), cerca de 195 milhões de trabalhadores ficarão sem emprego, sendo que desse total, apenas um terço vai contar com a proteção social para continuar sobrevivendo economicamente.
Diante desse cenário, a economia solidária é uma alternativa para quem quer contornar momentos de incerteza. Mas você já ouviu falar desse tipo de organização econômica? Conhece alguma cooperativa no estado que esteja em funcionamento?
Conversamos com a economista e analista técnica do Sebrae, Isabella Fernandes, sobre o conceito, vantagens e o motivo da economia solidária ser uma alternativa para contornar as consequências da pandemia, além de exemplificar como isso acontece na prática com duas cooperativas existentes em Mato Grosso do Sul, uma no município de Dois Irmãos do Buriti e outra em Terenos.
Conceito de Economia Solidária
Compreende o conjunto de atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito – organizadas sob a forma de autogestão. Sendo que nessa prática econômica, a autogestão acontece por meio de associações, redes de cooperação, cooperativas e até clubes de troca.
Objetivo da Economia Solidária
A organização do consumo, produção e distribuição de resultados está focada no ser humano e prioriza a igualdade, com o objetivo de ter um comércio justo e com consumo solidário.
Vantagens de ter a Economia Solidária, até mesmo em momentos de incerteza
De acordo com a técnica do Sebrae, Isabella Fernandes, o impacto social da economia solidária é muito maior, porque não foca na acumulação de capital, mas sim nos benefícios que a atividade econômica – seja de produção, prestação de serviços, e até mesmo o comércio – tem sobre as pessoas.
“A economia solidária é sim uma alternativa para enfrentamento do desemprego, mas ela é mais que isso. Ela configura enfrentamento ao desemprego pois posiciona a relação de trabalho além das possibilidades do capitalismo. Por meio da economia solidária, pessoas podem se organizar em cooperativas, associações, estabelecendo relações socialmente justas e sustentáveis”, explica Isabella.
Segundo ela, para que a economia solidária funcione, alguns conceitos precisam estar enraizados de todos os lados da relação. É preciso que aqueles que vão se organizar em conjunto entendam as responsabilidades que possuem na sociedade e nas relações propostas, e aqueles que vão consumir também entendam que o consumo solidário requer:
- a) realizar o seu livre e bem viver pessoal;
- b) promover o bem viver dos trabalhadores que elaboram, distribuem e comercializam aquele produto ou serviço;
- c) manter o equilíbrio dos ecossistemas;
- d) contribuir para a construção de sociedades justas e solidárias.
Exemplos de economia solidária em Mato Grosso do Sul
Cooperdib: Cooperativa dos Produtores Rurais do Município de Dois Irmãos do Buriti
Conversamos com o técnico agrícola Edson Alves, que já foi presidente da Cooperdib. De acordo com ele, tudo começou em janeiro de 2011 com a necessidade dos 298 produtores participantes venderem os seus produtos, de forma organizada, para agregar valor.
“A gente entendeu que se a gente se organizasse e vendesse em conjunto, a gente agregaria valor ao preço do leite. Entendemos a situação de que os comerciantes reclamavam que tinham que ir longe para buscar o leite. Então, com caminhão e funcionário próprio, além de coletarmos o leite, deixávamos o produto em local mais próximo da cidade para a empresa buscar”, explica Edson.
Para ele, a vantagem da economia solidária é justamente de conseguir o melhor preço, e ter com isso melhores resultados, como, por exemplo, a valorização do produto e condições de concorrência.
Edson finalizando dando uma dica para quem quer implementar a economia solidária e ajudar a contornar as consequências da pandemia.
“Quem quiser se organizar em grupo, precisa primeiro organizar sua produção e colocar à disposição do cliente que vai comprar o produto, além de garantir a disponibilidade. Fazendo isso, com toda a certeza vai poder agregar novos valores aos produtos e, consequentemente, continuar vendendo”.
Cooplaf: Cooperativa de leite e hortifruti em Terenos
A Cooplaf teve início em 2014 e conta, atualmente,com 341 produtores rurais de agricultura familiar. A pedagoga e presidente da cooperativa, Maria Nelzira Cardoso da Silva Garcia, explica que o motivo de criarem a cooperativa foi para buscar melhores condições para a comercialização dos produtos e melhor fonte de renda para o bem-estar de quem trabalha no campo.
“Somos um grupo de produtores de leite e hortifruti. A cooperativa faz a comercialização dos produtos e organização dos processos, desde a ordenha até ao laticínio e desde a colheita do hortifruti até a venda nos supermercados”, explica Maria.
De acordo com ela, a vantagem da economia solidária é a segurança na venda e recebimento dos produtos, baixo custo em produção, assistência técnica e logística.