Você deve se lembrar das listas telefônicas impressas que eram entregues gratuitamente em casa. Deve se lembrar também que, dentro delas, vinham alguns cupons de desconto destacáveis de pizzarias, farmácias, entre outros produtos.
Com a transformação digital, as listas telefônicas impressas deixaram de existir e os cupons de descontos tiveram que evoluir. Depois das compras coletivas, que foram uma verdadeira febre entre os anos de 2010 e 2013, estamos vivendo uma nova era dos cupons.
Ainda há quem aposte no modelo impresso, como é o caso da franquia Best Gourmet Club: um passaporte de vantagens que reúne cupons de estabelecimentos da área de gastronomia, oferecendo sempre 100% de desconto no segundo prato.
A ideia foi inspirada em um projeto do Governo Alemão para estimular a economia local. No Brasil, a adaptação da ideia começou em Cuiabá-MT e já existe em 15 cidades, entre elas Florianópolis, Fortaleza, Curitiba e Manaus. Em Campo Grande, os responsáveis pela franquia são o advogado Pedro Henrique Vallér Ramos de Carvalho e o bacharel em Direito Rangel Lorenzoni.
Durante quatro meses, a dupla visitou os principais restaurantes, bares, sorveterias, docerias e bistrôs da cidade. Em julho de 2018, lançaram o catálogo com 46 vouchers. “Nós ficamos sabendo da ideia em Maringá e vimos que estava funcionando muito bem lá e em Londrina também. Por saber que o programa preferido do campo-grandense é sair para comer, imaginamos que poderia dar certo. Não chegamos a fazer uma pesquisa de mercado de fato, arriscamos e tem dado muito certo”, conta Pedro Henrique.
Pedro Henrique e Rangel confessam que, no começo, tiveram um pouco de dificuldade com empresários que ficaram desconfiados, mas com um pouco de paciência, propaganda boca a boca e cases de sucesso, a ideia foi um sucesso e a 2ª edição já está garantida.
“Depois que vencemos a resistência inicial, o negócio deslanchou porque é um sistema ganha-ganha: a gente ganha na venda dos blocos, os estabelecimentos não pagam nada para entrar e ainda ganham clientes, que, por sua vez, ganham o desconto. Para a 2ª edição, muitos estabelecimentos já renovaram e até ampliaram tanto os dias em que o voucher pode ser usado quanto o leque de opções do cardápio”, explica Rangel. A 2ª edição terá, também, a versão em aplicativo.
Do sushi ao burguer
Quando Paula Mayumy, proprietária do Tako Cozinha Oriental, foi procurada por Pedro Henrique e Rangel, já conhecia a ideia de quando trabalhou em um restaurante em Curitiba. “Já achava a ideia bacana e decidi participar porque vi que era a 1ª edição em Campo Grande. A cidade pode desenvolver muito ainda na gastronomia e o sistema de vouchers é um incentivo. Nesses seis meses participando, aumentou muito a procura de pessoas que não conheciam o Tako, vieram por causa do voucher e acabaram se tornando clientes. Vamos participar da 2ª edição e ampliamos a possibilidade de usar o voucher para todos os dias de funcionamento da casa”, conta Paula.
Já Zacarias Barbosa Falcão, do Cavallo Burguer, não conhecia o Best Gourmet Club ainda, mas gostou da ideia logo de cara e apostou. “É um reforço nas nossas ações de marketing e fez com que as vendas aumentassem, pelo menos, em 5%. Trazendo esse cliente que não conhecia o meu negócio, eu me esforço para fidelizá-lo e fazê-lo voltar. Vou participar da 2ª edição, ampliando o uso do voucher para qualquer dia da semana, inclusive feriados”, declara Zacarias.
Um outro diferencial é que, no verso de cada voucher, existe um espaço para o cliente preencher informações, ajudando o estabelecimento a criar um banco de dados. O cliente pode fazer uma avaliação do estabelecimento, ajudando a formar um ranking que avalia ambiente, atendimento, cardápio, entre outros.
Negócios locais
Foi uma necessidade pessoal que deu origem ao que hoje é o app Ache no Bairro. E quem conta essa história curiosa é um dos fundadores da empresa, o administrador Marcelo André Alves Corrêa.
“Certo dia, estávamos saindo de casa para um compromisso e minha esposa, Giovana Dallamico, precisava trocar o saltinho do sapato. Morávamos no Tiradentes e procuramos alguma sapataria por perto, mas não achamos. Tivemos que ir ao centro da cidade, foi difícil achar vaga para estacionar, demorou, atrasamos, enfim. Na volta do compromisso, conversando sobre o acontecido, pensamos como seria útil um site que ajudasse as pessoas a achar serviços por perto e pensamos primeiro em criar algo para o nosso próprio bairro. Como a Giovana tinha acabado de ser desligada da empresa onde trabalhava, resolveu se dedicar à ideia”, relembra Marcelo.
Isso foi em 2015 e, de lá para cá, as coisas aconteceram muito rápido: Giovana começou a visitar as empresas e a oferecer cadastro gratuito no site, o que foi até que bem recebido pelos empresários, que também sentiam a necessidade de algo impresso. Foi então que começaram a editar uma revista, que chegou até a 11ª edição, com cerca de 50 anunciantes em cada edição.
Em 2016, Marcelo também foi desligado da empresa onde trabalhava e decidiu entrar no processo, junto com o terceiro sócio, Marcos Ortega. Como três cabeças funcionam melhor que uma, surgiu a ideia de fazer um aplicativo que permitisse fazer buscas tanto por proximidade (que era a ideia inicial de tudo), como por necessidade; e ainda disponibilizar alguns cupons promocionais, que são notificados em tempo real no celular de quem tem o app à medida que a pessoa passa perto dos estabelecimentos. “Nesse formato, é possível trabalhar o marketing de proximidade, o geofencing marketing e ainda o marketing de experiência. Dentro do app é possível, ainda, trabalhar com sistema de fidelidade e também transferir cupons para amigos”, comenta Marcelo.
A ideia saiu de Campo Grande e já está em sete cidades de Mato Grosso e Goiás, além de Brasília e cidades satélites.
“Fazer aplicativo, na verdade, é a parte mais fácil. O difícil é fazer o usuário baixar o app e não desinstalar; é nisso que investimos mais. Essa preocupação é constante porque, atingindo o maior número de pessoas possível, o resultado vem cada vez mais rápido. A tecnologia fomos nós que desenvolvemos e, por isso, ela é barata. E é necessário que seja barata porque o empresário precisa também investir na ação dele. O objetivo dos cupons não é uma promoção para lotar a loja, formar fila, o empresário não vai simplesmente ganhar dinheiro com o Ache no Bairro, ele vai ganhar clientes e converter a visita do cliente em venda”, explica Marcelo.
Empurrãozinho para recomeçar
Cabeleireiro e dono de um salão de beleza no centro da cidade por muitos anos, Sidney Demazi precisou recomeçar após um incêndio em seu estabelecimento e, com uma pesquisa, descobriu que a maioria de seus clientes moravam na região do bairro Tiradentes. Há um ano e meio, abriu uma barbearia na Rua Marquês de Pombal. Foi quando Marcelo fez uma visita ao estabelecimento e ofereceu os serviços do Ache no Bairro.
“Era exatamente o que eu estava precisando: atrair mais pessoas pra conhecer o meu trabalho. Disponibilizei cupons oferecendo um corte de cabelo masculino gratuito e minha taxa de captação aumentou 30% nos primeiros meses. Muitos tornaram-se clientes fiéis e voltam sempre; às vezes trazem o pai, o irmão o filho, e assim a gente vai crescendo”, conta Sidney.