A indústria calçadista é um dos setores que faz parte da base econômica do Brasil. Segundo dados do IEMI (Inteligência de Mercado), o setor produziu cerca de 897,6 milhões de pares de calçados só no período de janeiro a novembro de 2017. Comparando com 2016, houve um crescimento de quase 2% na produção. E o varejo não fica atrás: no mesmo período foram movimentados em torno de R$ 53 bilhões.
Essa crescente produção em massa tirou o foco de uma profissão bem tradicional, a dos sapateiros. Antigamente, comprar um calçado novo custava caro, então, compensava mandar arrumar aqueles mais velhos. Com a queda na demanda, sapatarias foram deixando de existir, mas algumas ainda resistem e tentam encontrar alternativas para se manter no mercado.
É o caso de Samuel da Rocha, sapateiro que herdou a profissão do avô e desde 1989 oferece o serviço em Campo Grande. No começo, o atendimento era feito em domicílio e o serviço que mais fazia era forração de calçados. Mas aí surgiu a necessidade de também realizar consertos, e assim nasceu a Fashion Sapataria.
Para Samuel, o declínio do setor nunca chegou a assustar. No ramo desde os 13 anos de idade, garante que nunca faltou serviço, mas o que atrapalha o crescimento das sapatarias é a falta de mão de obra. “Não falta trabalho de jeito nenhum, então a maior dificuldade nossa hoje é a mão de obra especializada. Porque não existe um curso de sapateiro, a pessoa aprende no dia a dia mesmo”, conta.
Kellyo Benites, da Sapataria Cruzeiro, também aprendeu a profissão vendo o pai, Paulo, trabalhar. Ainda criança, terminava a tarefa da escola a ia para a sapataria ajudá-lo. Após o falecimento do pai, em 1997, Kellyo deu continuidade ao trabalho, mas, depois de 8 anos, fechou o negócio. Aproveitou para fazer faculdade na área de Tecnologia de Redes, pós-graduação e chegou a dar aulas em uma universidade da capital. Há pouco mais de um ano, largou tudo para reabrir a sapataria.
“É o que eu gosto de fazer, é o que eu sei fazer melhor. E sendo dono do meu próprio negócio consigo ter qualidade de vida, almoçar em casa com as minhas filhas e esposa todos os dias”, conta.
Para manter o giro do negócio, Kellyo ampliou os serviços e conta com a ajuda de Leonardo, um jovem de 25 anos que está sendo treinado por Kellyo.
“Se ficar só nos sapatos realmente fica difícil manter, então eu faço botas, bolsas, malas, e tudo bem personalizado. Tenho percebido um resgate da cultura e a valorização do trabalho manual”, afirma.
Samuel também alerta para a necessidade dos profissionais se modernizarem e investirem em serviços diversos. “É preciso se atualiza; o tempo do sapateiro que só pregava uma sola e passava cola já foi. Você tem que se modernizar e aprender a trabalhar com os mais diferentes materiais”.
Por isso, além da restauração de calçados, pintura e transformações de um modelo para outro, a Fashion Sapataria também trabalha com a troca de forros de bolsas, alças e até restauração de malas.
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