Entre os 27 estados brasileiros, Mato Grosso do Sul ocupa atualmente a décima posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de acordo com o cálculo feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O estado já chegou a ocupar a 16ª posição e deu esse salto ao longo dos últimos anos.
Os avanços na economia, bem como o crescimento do PIB e incentivos para que empresas se instalassem na capital e nas cidades do interior, garantiu o bom ritmo de desenvolvimento.
Nesse sentido, quem começou pequeno lá atrás, hoje, se torna referência para quem quer empreender. Entrevistamos alguns empresários de Campo Grande para contarem um pouco mais sobre a sua trajetória e inspirar aqueles que querem abrir o próprio negócio.
Multicoisas
A história da loja começa em 1978, quando Lindolfo Martin decidiu deixar Maringá e o negócio da família para se aventurar em Mato Grosso do Sul, que havia recém se separado de Mato Grosso. “Visualizei que Campo Grande seria uma cidade que ofereceria grandes oportunidades para construir um sonho. O sonho, inicialmente, era sustentar a minha família: eu e minha esposa Elza, que estava grávida. Queria construir uma empresa que tivesse por base valorizar o conhecimento e as pessoas”, relembra.
A primeira marca fundada por Lindolfo foi a Multicasa, focada em materiais elétricos e hidráulicos. “Daí em 1984 eu tive uma ideia… Observei que os clientes de pequenas coisas na loja não eram bem atendidos. Os clientes chegavam procurando aquela borrachinha que vai no pé da cadeira, uma fita isolante, 5 metros de fio, uma tomadinha. Então eu decidi fazer uma empresa que oferecesse coisas que não têm valor para as outras lojas, e foi aí que eu abri a Multicoisas”, diz.
A loja foi pioneira em oferecer o autosserviço e computadores em cima das mesas dos vendedores. O sistema computadorizado foi criado pela equipe de Lindolfo, após adquirir os computadores e perceber que nenhum deles funcionava. “E eu tinha que fazer aquilo funcionar se não haveria divórcio e eu poderia quebrar a empresa. Procurei pessoas, que estão comigo até hoje, para desenvolver todo um sistema operacional próprio que envolvesse a gestão de loja, de estoque, logística, gestão de resultado, performance e gestão de desempenho”, afirma.
Na década de 1990, o empresário decidiu expandir os negócios. Inicialmente, testou o modelo de filiais, abrindo uma em Cuiabá, porém, de acordo com Lindolfo, a experiência foi difícil. Ao quebrar a cabeça para descobrir um sistema que fosse vantajoso, encontrou o franchising, que até então não estava consolidado no país.
“Eu fui atrás de pessoas que estudavam o tema e eles me mostraram e me convenceram que, a partir do momento que você se torna franqueador, você não vende mais produtos, você vende conceito e marca. E eu tive que dar um reset na minha cabeça varejista, na qual me criei desde criança, para ser um vendedor de conhecimento e tecnologia, um integrador de processos”, conta.
A caminhada na ampliação das franquias rendeu, até 2008, cerca de 80 lojas. A partir daquele ano, Lindolfo, juntamente com os franqueados e sócios, decidiram investir em um planejamento estratégico mais ousado, que previa acelerar o crescimento da marca. “Em razão disso, de 2008 a 2017, nós chegamos a 203 lojas”, finaliza.
A importância do apoio do Sebrae
“O Empretec foi um divisor de águas na minha vida empreendedora, porque foi onde eu aprendi as atitudes empreendedoras que me levariam a atingir meus objetivos e as minhas metas. Faz 21 anos que eu fiz o curso e ainda hoje eu aprendo com ele. O empreendedor precisa aprender sempre, porque o caminho do empreendedorismo não tem fim”, afirma Lindolfo.
Segundo ele, o Empretec é a alavanca que impulsiona o empreendedor, incentivando-o a não desistir do seu negócio.
Território do Vinho
A paixão por restaurantes passada de pai para filho foi a força motriz para que Diogo Wendling abrisse sua empresa, a adega gourmet Território do Vinho, em 2010. A inspiração veio da experiência do empresário como garçom e ajudante em vinícolas e restaurantes dos Estados Unidos, no ano de 2006.
Diogo se formou em Viticultura e Enologia pela Universidade de Napa Valley e teve uma de suas últimas experiências no restaurante Bottega, do renomado chef Michael Chiarello. Ao retornar ao Brasil, a pretensão do empresário era abrir uma adega, mas, com o tempo, a ideia foi amadurecendo.
“Foram praticamente de três a quatro meses desenvolvendo o plano de negócios, pensando em cada canto do Território. Peguei várias ideias do que eu tinha visto e vivido nos EUA, as vinícolas onde tinha trabalhado e visitado, os restaurantes. Eu juntei praticamente tudo o que eu tinha vivenciado nesses mais de três anos morando fora para poder colocar em um único projeto, e entregar o que tinha de melhor no mundo dos vinhos e da gastronomia para Campo Grande”, afirma.
Com três anos de empresa, Diogo enfrentou o desafio da expansão, montagem de uma nova equipe e aumento do espaço físico. “Saímos de uma equipe de cinco, seis pessoas para montar uma de 30. Um lugar que era de 50 m² foi para 450 m² , e queríamos criar um conceito totalmente novo, mas sem perder a essência. Queria criar vários ambientes para que cada um fosse uma surpresa para o nosso cliente, como se ele estivesse entrando dentro de uma vinícola, ou dentro de um chatô, criando uma experiência única e mágica”, conta.
Além do Território do Vinho, Diogo é dono do Território Lab e da Vila Rebuá Gastronomia, em Bonito. “Nosso próximo passo é fazer com que Bonito se consolide como principal destino turístico gastronômico do estado. Além do Território Lab melhorar cada vez mais a parte de cursos, treinamentos e eventos corporativos. Já, no Território do Vinho, estamos planejando nossos 10 anos e junto deles a ampliação, aumento da capacidade de lugares e da cozinha, para conseguirmos receber mais eventos”, comenta Diogo.
O empresário acredita que o maior diferencial de seus empreendimentos é o atendimento ao cliente. E, para que isso não se perca no dia a dia, Diogo realiza treinamentos e reuniões com gestores e funcionários diariamente, onde também alinha os objetivos e metas da empresa. Ele também vê que esse esforço foi um dos fatores que fez com que o empreendimento mudasse o mercado de Mato Grosso do Sul.
“A gente investiu muito em capacitação dos colaboradores, e também os cursos e eventos para os clientes. Primeiro para poder desmistificar o vinho no nosso estado, mostrando que não precisa estar frio para tomar vinho. Então eu acho que o trabalho que foi feito com os vinhos foi fundamental porque hoje quase todos os restaurantes têm adegas e importadoras de vinho, e tudo começou com o Território”, afirma.
A participação do Sebrae no Território
Diogo Wendling conta que teve a ajuda do Sebrae desde o começo do negócio, principalmente nos cinco primeiros anos. “Fizemos consultorias em marketing, planejamento estratégico, mapeamento de processos, gestão financeira, RH, todas as possíveis”, relembra.
Sésamo Gelato
A Itália é famosa por seus sabores, as massas, pizzas e os vinhos, mas foi o gelato que conquistou o paladar de Bruna Rios. A primeira visita ao país despertou na empresária a vontade de abrir o próprio negócio e trazer para o Brasil o sorvete de sabor incomparável.
“Em minha segunda viagem, em 2011, eu e meu sócio, Nelson Gabriel Pinto, começamos a procurar os segredos dos grandes mestres sorveteiros, da expertise e do melhor sabor de gelato, que encontramos em Florença, na Gelateria Santa Trinita”, relembra Bruna.
Depois de tomada a decisão, os empresários ainda levaram dois anos entre a temporada na Itália pesquisando e a buscando pelo local da empresa e se preparando para iniciar as operações no Brasil. “Quando voltamos, buscamos o Sebrae. Inicialmente, nos ajudou com a implantação da empresa por meio do projeto Nascer Bem, que deu respaldo para a abertura da empresa. Com a loja pronta, participei do Empretec. A capacitação do Sebrae foi imprescindível para a formulação da estratégia empresarial”, afirma.
Atualmente, a gelateria está presente em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Com a marca Sésamo já consolidada, Bruna decidiu investir nos picolés e abriu uma outra empresa com foco nesse produto específico.
“Não acredito que nós mudamos o mercado em Mato Grosso do Sul, o que eu acredito é que é preciso se manter atualizado e estudar sempre para manter a empresa em ascensão. Os empreendedores que estão sempre estudando, tentando fazer o melhor possível com inovação, têm condições de mudar o mercado”, reconhece Bruna.
E finaliza: “Considero que nós construímos não apenas uma empresa, mas um conceito. Nós vendemos não apenas um produto muito bom, vendemos uma experiência. Você não fala ‘vou tomar um sorvete’ quando vai à gelateria, você fala ‘vou tomar um Sésamo’”.
Vermelho Grill
O último, e não menos importante, negócio do qual queremos contar um pouco a história é o Vermelho Grill. Eduardo Fornari é um gaúcho apaixonado por carne vermelha que tinha o sonho de fazer com que os pecuaristas tivessem seu trabalho valorizado e reconhecido. A concretização da ideia veio na forma de um restaurante com cardápio variado de cortes, e cuja carne é comprada diretamente da fazenda, seguindo padrões técnicos de raça, maciez e idade do animal.
Eduardo conta que a primeira dificuldade foi a matéria-prima. “Os frigoríficos produziam toneladas de carne para entregar no maior número de pontos de venda possível. Não havia preocupação com a qualidade ou padrão, e nós buscávamos algo que não tinha no mercado. A saída foi pensar fora do convencional e buscar o controle da produção da carne”.
O empresário então transmitiu o pensamento de que a carne teria de ser produzida pensando no consumidor, para os parceiros, e a expressão “do pasto ao prato” passou a ser usada para definir o processo de produção.
O Vermelho Grill abriu as portas em 1999, com um design rústico e construído com materiais sustentáveis, onde a churrasqueira fica aberta para o salão do local. Oito anos depois, foi inaugurada a primeira filial, em Porto Alegre (RS).
Mudança de mindset
Eduardo também participou do Empretec e aponta o seminário como um divisor de águas em sua carreira empreendedora. “Fez a diferença no meu lado pessoal e comportamental, o que acredito ser o principal para mudar o nosso pensamento no dia a dia da empresa. E o que mais me marcou foi aprender a característica empreendedora de se colocar responsável por tudo o que acontece na nossa vida e na empresa ”, comenta.
O empresário acredita que apossar-se dessa convicção ajuda na tomada de decisão para os negócios, contribuindo para que se amadureça melhor as ideias e tome precauções na hora de investir.
Anita Calçados
Nascida em Passo Fundo (RS), Anita mudou-se para Campo Grande em 1986 junto com o esposo, para que ela pudesse ficar mais perto dos pais, que já estavam morando na cidade. Nesse mesmo ano, a história da Anita Calçados começou, de forma tímida e despretensiosa.
Com o marido como representante de calçados e Anita revendendo os produtos, a primeira ‘loja’ era a própria casa do casal. “Um ano depois abrimos a loja que fica na Avenida Mato Grosso e que nós chamamos de matriz. O nome já havia se consolidado, pois quando as pessoas iam lá em casa, elas falavam: ‘vamos na Anita’, e assim ficou”, relembra.
A empresária lembra que o começo foi difícil, já que ela e o marido cuidavam sozinhos do negócio. “Foi muito trabalho e dificuldades! E sempre trabalhando sem nenhuma ajuda. Pensando no hoje, se eu tivesse que começar do zero (como eu fiz anos atrás), eu procuraria algum tipo de suporte”, conta Anita.
E entre tantas dificuldades, como, por exemplo, a contratação de funcionários com experiência em vendas, Anita notou uma necessidade principal: mesmo com a loja na Avenida Mato Grosso e o nome já conhecido, seu negócio ainda era longe do centro da cidade. Diante disso, começou o processo de expansão da marca.
“Inauguramos a primeira Anita na R. Dom Aquino, pouco tempo depois abrimos mais uma na mesma rua e outra na 14 de julho. Hoje temos 25 lojas, contando as cidades de Campo Grande, Cuiabá e Dourados. Nosso foco agora é ampliação das lojas. Em 2019, já fizemos a ampliação, reforma e abrimos mais três lojas em Cuiabá. E queremos dar atenção a Campo Grande. Reformar as lojas mais antigas, procurar novos pontos de venda e abrir mais lojas”, comenta.
Anita acredita que seu negócio se destacou no mercado do estado por conta de diversos diferenciais, principalmente na época em que foi inaugurada a primeira loja. “Não havia uma loja do tamanho da nossa, nem com tanta variedade de produtos, marcas, condições de pagamento e atendimento diferenciado. Nós realmente mudamos o mercado”, finaliza.