Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD) do IBGE de 2019, só 20% dos profissionais de Tecnologia da Informação (TI) são mulheres, e mesmo que elas tenham o grau mais elevado de instrução do que os homens que atuam no mesmo setor, ainda ganham 34% menos do que eles.
Além disso, de acordo com o levantamento realizado pelo site de recrutamento Catho e a empresa Unlocking the Power of Women In Technology (UPWIT) com mais de mil profissionais do setor em 2018, 51% das mulheres relataram ter sofrido discriminação no ambiente de trabalho por conta do gênero.
Mas é claro que, mesmo o mercado não dando a credibilidade necessária para que tais mulheres tenham a devida visibilidade e representatividade, muitas possuem uma trajetória de sucesso. O Blog do Sebrae MS conta hoje a história da Ana Fernanda Gomes Ascencio, um verdadeiro destaque que representa muito bem as mulheres na computação do MS.
Trajetória de uma mulher na computação
Ana Fernanda Gomes Ascencio, 48 anos, possui formação e mestrado em ciência da computação, é especialista em sistemas de informação e autora de oito livros na área de programação de computadores.
Logo após se formar, trabalhou durante 19 anos como professora universitária em cursos de tecnologia, especificamente em disciplinas de programação, mas foi em 2006 que aceitou o desafio de empreender.
“Um proprietário de uma locadora de equipamentos para construção me procurou para que eu indicasse alguém para desenvolver um sistema de gestão para a sua locadora. Eu fiquei preocupada em indicar e então recebi a seguinte proposta: ‘Como você está grávida e vai ficar de 4 a 5 meses parada, por que você mesma não faz?’ Não hesitei, aceitei e aí começou o desafio”, relata Ana Fernanda.
Assim nasceu o Sistemalocar
Depois de meses de estudo dentro da locadora para entender o negócio que seria gerenciado pelo sistema a ser desenvolvido, o Sistemalocar – um software de gestão para locadoras de bens móveis (equipamentos e máquinas de construção civil, containers, empilhadeiras, plataformas aéreas, banheiros químicos, tendas, compressores, geradores, equipamentos de informática e telecomunicações e equipamentos médico hospitalares) nasceu em 2007.
O objetivo do sistema é justamente automatizar processos de empreendimentos dos segmentos citados, além de oferecer recursos que contribuam para a tomada de decisões. Atualmente, o software é usado por diversas empresas em mais de 20 estados do Brasil.
Mas histórias de sucesso sempre possuem algumas dificuldades por trás. “Ao longo desses anos, sendo uma empreendedora mulher, experimentei as dificuldades de lidar com clientes, que em 90% dos casos são do sexo masculino, e que infelizmente desconfiam da competência das mulheres na área de tecnologia – área ainda dominada por homens. Mas usando uma qualidade feminina que é manter a de calma e explicar o produto com suas qualidades, soube driblar tudo isso”, relata Ana Fernanda.
Mulheres de Negócios
Ana Fernanda conheceu o Programa Mulheres de Negócios do Sebrae MS pelas redes sociais, quando as inscrições estavam abertas. Por ter dificuldade com os times de vendas e marketing, resolveu se inscrever, e felizmente foi selecionada para participar.
Para ela, o programa proporcionou muitas informações por meio de treinamentos e mentorias, além do networking. Tudo foi primordial para que ela analisasse o seu negócio com critérios mais técnicos e tomasse decisões mais assertivas. E os resultados foram satisfatórios.
“Fechamos 2019 com crescimento de 23%, o que considero um excelente resultado, tendo em vista as dificuldades enfrentadas pelo mercado, com a crise política e financeira que atingiu o país nos últimos anos”, relata Ana Fernanda.
A presença de mulheres na computação ao longo da história
Para quem não sabe, quem fundou a computação científica, no século 18, foi Ada Lovelace e quem criou o primeiro software de computador foi Grace Hopper, em 1944. A primeira norte-americana a conseguir PhD em Ciência da Computação e a participar da criação da linguagem BASIC foi a freira Mary Kenneth Keller.
Durante a 2ª Guerra Mundial, cinco mulheres escreveram instruções para o primeiro computador programável totalmente eletrônico do mundo.
Ou seja, uma ciência criada por mulheres e que, antigamente, era dominada por elas. Em 1974, o bacharelado em em ciência da computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP era representado por 70% da turma por mulheres.
Fatos e dados que nos espantam atualmente, quando a presença de mulheres na computação caiu drasticamente. De acordo com pesquisas realizadas pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC), a área de tecnologia possui apenas 15% de alunas matriculadas em cursos de Ciência da Computação e Engenharia.
Mas, então, o que aconteceu? Para onde foram essas mulheres?
A falta de incentivo e representatividade de mulheres na computação são as principais causas do baixo número de meninas que queiram seguir carreira na área de tecnologia.
Uma pesquisa feita pela Microsoft mostrou que as mulheres se consideram menos aptas para as carreiras de exatas conforme crescem. Geralmente, meninas de 11 anos costumam se interessar pela área de tecnologia e exatas, mas aos 15, elas começam a desistir. As razões vão desde ausência de representatividade feminina na área, falta de confiança e igualdade na carreira de exatas, além do contato tardio com cálculo e programação, antes mesmo da faculdade.
De acordo com a nossa entrevistada, Ana Fernanda, ela não tem uma perspectiva muito boa para que o quadro mude em pouco tempo. “Infelizmente não acho que nos próximos anos irá aumentar a presença das mulheres na computação, pois as atividades incentivadas para as crianças do sexo feminino não são atividades de raciocínio lógico. Uma alternativa para contornar isso, seria o ensino de algoritmos e programação nas escolas”, diz.
Mas, de acordo com o Code.org – organização sem fins lucrativos que divulga e ensina programação para pessoas de todas as idades -, os empregos na área de computação irão mais do que dobrar em 2020, cerca de 1,4 milhão de vagas serão ofertadas. O empecilho é que não possui obra qualificada o suficiente para suprir a demanda, e um dos principais motivos é o baixo número de mulheres na área.
Nesse sentido, para quem ainda não é da área e deseja seguir carreira, o incentivo é perseverança. E para quem já tem formação e quer renovar as energias para fazer o que se ama, envolvendo a computação, Ana Fernanda dá uma dica para quem quer empreender. “Para as mulheres que pensam em abrir seu próprio negócio, acho que vale lembrar que empreender é tornar um sonho em realidade, e isso exige muito trabalho, dedicação e amor no que se faz”, finaliza.