Localizado a 102 km de Campo Grande, o município de Ribas do Rio Pardo completa 74 anos de emancipação política no dia 19 de março. Originalmente ocupadas por indígenas Guarani e Aruak e desbravadas por paulistas, mineiros e baianos, as terras que atualmente compreendem o município – com sede às margens da rodovia BR-262 – chamam atenção pela diversidade de atividades que comportam: pecuária, agricultura, eucalipto, extrativismo de resina e carvão vegetal, além de serrarias e indústrias minero-siderúrgicas.
Tantas empresas funcionando fizeram a população da cidade crescer de pouco mais de 13 mil habitantes para cerca de 24 mil nas últimas três décadas. Teve gente que chegou a Ribas à procura de um emprego e teve também quem enxergou na cidade a oportunidade de empreender.
É a história dessas pessoas que o Sebrae gosta de contar. Pessoas que, mesmo sem garantias, apenas com um sonho, acreditaram no potencial da cidade e com muita força de vontade construíram suas histórias e colaboraram para o progresso da região.
Pessoas como o João Mardegan, que saiu de Lavínia (SP), em 1980, para trabalhar em um banco em Campo Grande. Com 18 anos e apenas o primeiro grau completo, João sentia a vontade de trabalhar por conta própria.
Quando saiu do banco, em 1989, apostou em sua experiência de seis anos como balconista no comércio da família e foi embora para Ribas vender salgados na rua. Com o passar do tempo, sentiu a necessidade de ter um ponto fixo, e alugou um espaço pequeno, onde abriu um bar. O prédio foi vendido e o novo dono pediu o ponto. Ao procurar um novo local para instalar seu bar, abriu também uma mercearia no espaço de uma loja de roupas que estava fechando.
Com a ideia de diversificar os negócios, em 1994 abriu um campo de bocha com duas pistas. Para isso, trouxe de Lavínia um sobrinho que estava desempregado, Edmilson Cesar de Abreu, então com 21 anos, que com a ajuda da mãe tocava o campo de bocha durante o dia e, à noite, servia lanches.
A rotina puxada – com o estabelecimento funcionando praticamente 24 horas – fez o campo fechar. O jovem Edmilson, então, decidiu seguir o empreendedorismo do tio e focar na lanchonete, que com o tempo cresceu e passou a servir pizzas e refeições. O nome: Restaurante e Pizzaria Bocha.
Durante muito tempo, Edmilson percorria 400 km a cada 10 ou 15 dias para buscar a uma massa de pizza famosa em sua cidade natal. Quando sentiu que Ribas abraçou o negócio, contratou uma pizzaiola de Auriflama, desenvolveu uma massa própria, reformou o estabelecimento e montou seu forno a lenha.
Com 10 funcionários e uma estrutura de 450 m2, que atende até 150 pessoas, o “Bocha” serve os clientes no sistema Delivery e À La Carte. É a realização de um sonho para Edmilson, mesmo diante da crise que afetou o movimento e o faturamento do negócio no ano passado.
“Eu fui criado debaixo do balcão, sempre acompanhando meus pais e avôs no comércio. O ritmo de trabalho em um negócio do meu ramo é muito puxado, tenho me desdobrado, feito várias funções, e eu só aguento, só resisto, porque eu faço o que eu gosto. Tudo o que eu tenho saiu daqui. Comprei casa, carro, terrenos e sou muito grato a Ribas”, conta.
Sonhando alto
Voltando à história de João, que depois de vender a sua parte no campo de bocha para o sobrinho e um apartamento que tinha em Campo Grande, comprou uma Kombi e a cada 15 dias ia à Capital buscar frutas, verduras e legumes para abastecer o novo negócio: a mercearia já tinha se tornado um mercadinho, de 200m2.
O mercadinho cresceu e se transformou no Supermercado Mardegan, que funciona até hoje com 45 funcionários. Os prédios que foram sendo desocupados se tornaram depósito e, nessa trajetória de 29 anos, João deu emprego pra muita gente e foi o porto-seguro de grande parte da família, que saiu do interior de São Paulo para morar e trabalhar em Ribas.
“Sou riopardense de coração e essa cidade me deu muita coisa. É uma cidade boa, que tem muito potencial, o povo é acolhedor. O segredo para aproveitar esse potencial e fazer dar certo é ser humilde e manter um bom relacionamento com o cliente”, comenta.
Aos 57 anos, casado e com cinco filhos, João não precisa mais dormir em cabine de caminhão nem trabalhar praticamente 24 horas seguidas. Mas não significa que ele tenha parado de trabalhar. Muito pelo contrário: se dedicou a uma plantação própria de alface, abacaxi e outros produtospara abastecer seu setor de hortifruti e em 2019 pretende inaugurar um supermercado ainda maior.
Terra de oportunidade
Foi viajando durante 12 anos, pela Região do Bolsão para vender sementes de pastagens que Thiago Magrin despertou para o seu próprio negócio. Natural de Camapuã, o técnico-agropecuário viu na cidade uma demanda reprimida de produtos agropecuários.
Em 2005, abriu a Nova Terra Comércio de Rações e, em 2012, construiu a fábrica. Hoje, possui nove funcionários e atende a revendas também em outras cidades, como Água Clara e Campo Grande.
“Tudo que tenho hoje adquiri com o meu trabalho; e Ribas é sim uma cidade acolhedora e de oportunidades para quem tem força de vontade e determinação para trabalhar”, finaliza.