O avanço da pandemia do novo coronavírus alterou a rotina de países inteiros e levou preocupação e apreensão a empresas e empresários do mundo todo. Enquanto na China, de onde o vírus se disseminou, as atividades já começam a retomar seu ritmo normal, o Brasil e países da América Latina e Europa ainda engatinham nas medidas de contingência. Uma das mudanças mais significativas foi com relação à liderança e seus funcionários, em que ambas as partes tiveram que se adaptar.
No post de hoje, vamos falar sobre a transformação do modelo de trabalho, que em sua maioria, está sendo executado de forma remota. Além de abordar questões sobre liderança, e como não deixar que a distância atrapalhe a produtividade dos funcionários. Vamos lá?
O presencial faz falta, mas nem tanto assim
De acordo com um estudo realizado por Fabian Salum, professor da área de Estratégia e Inovação da Fundação Dom Cabral, em parceria com a consultoria e auditoria Grant Thornton, 40% dos trabalhadores brasileiros acreditam que a produtividade em casa é similar àquela dentro da empresa.
Mesmo que ⅕ dos entrevistados se sintam preocupados com o modo como seu trabalho em home office está sendo avaliado, 54% afirmaram que irão pedir para seus gestores para continuar trabalhando de casa após a a pandemia. A pesquisa entrevistou 705 profissionais, de 18 estados brasileiros, 46% deles de 24 a 39 anos e 41% de 49 a 58 anos.
A consultora de RH Claudia Marcondes do Amaral também acredita que o distanciamento não prejudicou a produtividade. “O ser humano teve que fazer novos arranjos comportamentais, dinamizar processos e adotar novas práticas laborais. O fato de a pandemia limitar o contato social, não prejudicou a produtividade”, afirma.
Claudia entende que existem duas situações: a dos profissionais que têm a sensação de que sua rotina de trabalho continua a mesma e a dos que consideram que estão trabalhando mais. E isso se dá pela maior concentração demandada no trabalho remoto e pelo fato de não terem que fazer deslocamentos. Porém a consultora vê que esta é uma ótima oportunidade para os profissionais inovarem e repensarem suas práticas de trabalho.
Os desafios do distanciamento para a liderança
De acordo com Claudia, a maior dificuldade é justamente a falta de socialização entre os colegas de trabalho e cabe às lideranças das empresas repensarem o modo como a equipe se relaciona. “Empresas estão utilizando ferramentas para fazerem reuniões, supervisionar o trabalho e até mesmo para capacitar funcionários. Estes estão distanciados fisicamente, mas trocando experiências utilizando a tecnologia. As reuniões virtuais pelos aplicativos facilitam processos de comunicação, integração e cooperação entre todos”, diz.
Este momento irá transformar de maneira profunda o modo de trabalhar e novos processos serão adotados para melhorar as relações e produtividade dos funcionários. É mais do que crucial que os gestores descubram uma nova forma de liderar, dialogar e avaliar sua equipe, para que não haja prejuízos.
Consolidação do digital e o trabalho remoto
Após a pandemia, poderemos analisar que a economia terá um antes e depois. As mudanças no comércio e serviços, bem como o impacto no trabalho, como já mencionamos, serão permanentes.
Será que as lojas físicas ainda terão a mesma relevância em um mundo em que os consumidores aprenderam a viver e consumir em casa? O pesquisador do mercado de trabalho Yannick L’Horty, da Universidade Paris-Est-Marne-la-Valée, acredita que houve um súbito desenvolvimento de tudo que facilita as relações a distância, e isso fez com que o digital se consolidasse.
O mesmo pensamento vale para o trabalho remoto, porém com algumas ressalvas. Yannick observa que em alguns países, como o Brasil, o home office não é uma prática comum e é preciso que trabalhadores e lideranças saibam diferenciar o trabalho remoto desejado e o suportado.
E como já mencionamos no post sobre as medidas provisórias, as empresas precisam oferecer as condições adequadas para que seus funcionários possam executar suas atividades de forma remota. Porém o que pode acontecer é um movimento de “cair na real” por parte dos funcionários, que podem perceber que o trabalho em home office não é um paraíso.
Deve-se saber conciliar a vida profissional, pessoal, a pressão, isolamento, além da dificuldade de comunicação e cooperação com os demais colegas de equipe. Sobre este aspecto, Coutrot, o autor de “Libérer le travail face à l’obsession du contrôle” (Liberar o trabalho diante da obsessão pelo controle), acredita que o aparecimento de problemas de saúde mental e física dos funcionários que estão em casa devido à pandemia deve aumentar.
Afinal, por estarem conectados em tempo integral no sistema da empresa, existe a pressão dos chefes estarem sabendo e vendo o que todos estão fazendo em tempo real. E cabe ao líder da empresa criar soluções para sua equipe e passar consistência aos funcionários, por meio da criação de padrões de processos e garantir com que o planejamento seja realizado por todos da empresa.